Não existe melhor estratégia de conquista dos ímpios pela igreja que a do evangelismo. Como tudo que é feito na igreja, o evangelismo tem um propósito, que é o de ser uma via pela qual a igreja proclama a transformação do mundo a partir da mudança operada na vida dos seres humanos (2 Coríntios 5:19). Assim, o evangelismo é também baseado no testemunho da vida daqueles que o fazem, a exemplo do testemunho que Cristo apresentava às pessoas antes de pregar a elas. Os relatos sobre Jesus nas Escrituras Sagradas constituem nosso melhor, único e inequívoco manual de evangelismo. Todavia, sendo o evangelismo um método de conquista e expansão do reino de Deus, pode ser dividido em etapas a serem seguidas.
Recrutamento: A premissa básica do método de Jesus era que ele se baseava em pessoas (Lucas 6:13), que pudessem testemunhar a respeito dele depois que tivesse partido. Não necessariamente os mais capazes intelectualmente, mas em geral pessoas comuns, sem instrução, e sobretudo dispostas a seguí-Lo. Não era um grupo grande, pois quanto mais concentrado e compacto for o grupo a ser orientado, maior o potencial para uma instrução eficaz. Tudo dependia da fidelidade daqueles poucos; o mundo conheceria a Ele através daquele pequeno grupo. Cristo nos ensina que um ministério evangelístico para alcançar as multidões exige uma concentração maior de tempo sobre um número reduzido de pessoas, para o surgimento de uma liderança treinada para a obra do ministério (Efésios 4:12). A vitória nunca é alcançada pelas multidões.
Associação (Mateus 28:20): Durante seu ministério, Jesus permaneceu entre os discípulos, trazendo-os para perto de si. É interessante notar que o tempo que Jesus investiu com seus discípulos era muito maior do que o que Ele passou com outras pessoas. Jesus até recebeu de bom grado a assistência das mulheres, mas evitou incluí-las no seu seleto rol de discípulos. Ele instilou nos discípulos a necessidade de cuidar pessoalmente dos novos convertidos. O ministério de Cristo nos mostra que as pessoas devem estar dispostas a se manter sempre junto daquelas que pretendem liderar. Agir de forma diferente é deixar os novos convertidos na mão do diabo. É altamente recomendável que o novo convertido tenha um amigo cristão como referência, até o ponto de poder liderar outros novos convertidos.
Consagração (Mateus 11:29): Com o tempo e com a convivência, seguidores obedientes assumem o caráter do seu líder. Essa é uma conseqüência direta do discipulado: a aquisição de características do líder por parte de seus liderados. Jesus Cristo mostrou que quem não renuncia a tudo o que possui não pode ser seu discípulo, pois ser discípulo d’Ele exige consagração completa. Além disso, ser discípulo é uma condição necessária para ser líder. Ninguém pode liderar enquanto não aprender a se submeter. O genuíno discipulado cristão é o requisito fundamental para que uma pessoa possa ser considerada membro da igreja, participante do crescimento e da edificação da mesma.
Transmissão: Somente o Espírito capacita as pessoas para cumprir a missão redentora do próprio Espírito. Antes de ascender aos céus, Jesus Cristo ressurreto fez com que os discípulos recebessem o Espírito Santo (João 20:22). Nisso vemos a importância fundamental do Espírito Santo no trabalho de evangelismo, que não pode ser interpretado como um empreendimento humano, mas como um projeto divino, como parte da obra do Espírito Santo.
Demonstração: Jesus providenciou para que seus discípulos aprendessem sua maneira de viver diante de Deus e diante dos homens, e vissem como eles deveriam se comportar. Antes de ensinar, Cristo foi o exemplo. Ele não pedia que ninguém fizesse nada antes que tivesse demonstrado com sua própria vida. Paulo também procurava ser um exemplo, e recomendava aos cristãos que o imitassem, como ele próprio era imitador de Cristo. (1 Coríntios 11:1). O que apresentamos aos outros através de nossa vida é extremamente importante, pois as pessoas farão o que ouvirem de nós e o que virem em nós (Filipenses 4:9).
Delegação: Jesus sempre desenvolveu seu ministério em função do momento a partir do qual seus discípulos teriam de substituí-lo em sua obra e sair pelo mundo, levando o Evangelho da redenção aos homens. Como a águia, que ensina os filhotes a voar empurrando-os do ninho, Jesus também empurrou os discípulos para o mundo a fim de que aprendessem a bater as asas. Para tanto, os discípulos precisaram também confiar em Deus para suprir suas necessidades. Dentro das nossas igrejas, a delegação assume importante papel e deve ser feita ao se estimular a iniciativa das pessoas, distribuindo atividades práticas e esperar que elas sejam cumpridas.
Supervisão: Jesus não permitia que seus discípulos descansassem no sucesso ou no fracasso. Sempre havia algo mais a fazer e aprender. Assim, é fundamental que aqueles que se engajam na obra do evangelismo recebam orientação e supervisão pessoal até que estejam suficientes maduros para seguir por conta própria. Discípulos precisam ser conduzidos à maturidade espiritual, auxiliados pelos cristãos mais maduros na fé.
Reprodução: Jesus tinha por intenção que os discípulos produzissem outros discípulos a eles mesmos. Por meio deles e de outros, a eles semelhantes, o reino continuaria a expandir-se (João 15:16). A estratégia evangelística de Jesus em sua inteireza dependia da fidelidade de seus discípulos escolhidos para essa gigantesca tarefa. Um crente estéril é uma contradição, já que uma árvore se faz reconhecida pelos seus frutos. A grande comissão, da qual os discípulos foram incumbidos por Cristo, pode ser sumariada no mandamento que diz: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações...” (Mateus 28:19). O que realmente tem valor, na perpetuação final de nosso trabalho, é a fidelidade com que os convertidos sob nosso ministério estão saindo e preparando lideres dentre os seus convertidos, e não apenas mais seguidores. Nossa preocupação principal não é se conquistaremos ou não a nossa geração para Cristo, mas sim aquilo que estamos fazendo, em nossa atual geração, para atingir a próxima. “Homens são o método de Deus”. Enquanto não dispormos de homens imbuídos com o seu Espírito e dedicados ao seu plano, nenhum de nossos métodos funcionará.
Assim, cada um de nós deve procurar alguma maneira de incorporar a sabedoria da estratégia de Jesus em nosso próprio método preferido de evangelização. Abordagens novas e ousadas necessitam ser primeiramente experimentadas, à medida que as situações forem se modificando, pois nem todos os experimentos dão certo. A vida e o exemplo de Jesus nos ensinam que descobrir e treinar homens, para conquistarem outros homens para o Salvador, deve ter toda a prioridade. Se tivermos de treinar homens, precisamos de trabalhar em favor deles. Precisamos sair à procura deles. Precisamos conquistá-los. E, acima de tudo, precisamos orar por eles.
O trabalho mais excelente de treinamento sempre será feito com alguns apenas. A única maneira realista de conseguir isso é se mestre e aprendiz estiverem juntos. Deve haver uma comunhão fechada e disciplinada, dentro de cada grupo. É justamente esse princípio que faz o método ser tão favorável ao crescimento. Todos os crentes precisam receber algum trabalho especifico na tarefa do evangelismo pessoal.
O aspecto mais difícil de todo esse processo de treinamento é que precisamos antecipar os problemas que nossos seguidores terão de enfrentar, preparando-os para o embate. Teremos de aceitar o peso da imaturidade deles, até que possam suportar essa carga pessoalmente. Todas as coisas devem contribuir para conduzir esses homens seletos até o dia em que poderão assumir, por si mesmos, um ministério todo seu, em suas próprias esferas de influência. O aspecto mais crucial nisso é a própria experiência espiritual dos nossos seguidores.
Nossa satisfação consiste de saber que nas gerações vindouras o nosso testemunho em favor de Cristo continuará produzindo fruto através daqueles que tivermos conduzido aos pés do Senhor. Essa é a questão decisiva em nosso plano de vida. A relevância de tudo aquilo que fazemos aguarda o seu veredito; e, por sua vez, o destino das multidões depende do lado para onde pender a balança.