domingo, 23 de agosto de 2009

Lutando pela verdadeira coroa

Acompanhamos nos últimos dias um dos eventos mais importantes do esporte: o campeonato mundial de atletismo. O atletismo compreende os esportes praticados em pistas construídas em estádios e corridas em ruas. E é nesse conjunto de modalidades onde os atletas mais precisam vencer os seus limites. Afinal, não é qualquer um que consegue correr os mais de 42 quilômetros de uma maratona, ou ainda, correr 50 quilômetros mantendo sempre um dos pés no chão, como na marcha atlética.

E todo esporte individual tem uma coisa em comum: apenas um atleta chega à medalha de ouro, a condecoração que simboliza o reconhecimento ao atleta que conseguiu ser melhor que os demais. E nisso há pouca margem para o acaso. Aquele que vence sempre traz consigo altas quantidades de treinamento, sofrimento, pressões, cobranças e até derrotas anteriores. Até a Bíblia fala um pouco do que é o sofrimento de um atleta.

“Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.” (1 Coríntios 9:24-27)

No Mundial desse ano, as histórias de dois atletas em especial ganharam maior repercussão. Dois exemplos de atletas vencedores, reconhecidos. Entraram na pista para competir com o status de serem grandes favoritos, detendo cada um os atuais recordes mundiais em suas respectivas modalidades e haviam alcançado a medalha de ouro olímpico com todos os méritos o ano passado. Até seus próprios adversários entraram para competir sabendo que vencê-los só seria possível se houvesse um milagre ou uma tragédia, pois eles realmente demonstraram nas competições anteriores que realmente estão num nível técnico bem superior do que os demais.

Mas os dois atletas, de currículos tão semelhantes, tiveram desempenhos completamente diferentes nessa competição. O primeiro, velocista, não só venceu, como superou os seus próprios limites. Quando muita gente pensava que o ser humano não poderia ser mais rápido do que ele já tinha sido, ele foi lá, venceu a si mesmo, e quebrou novamente o recorde mundial que já era dele. E fez isso em dobro, pois obteve desempenho espetacular tanto na prova dos 100 quanto na dos 200 metros. Mas a segunda, a saltadora, passou vergonha. Mesmo tendo várias oportunidades, não conseguiu dar nenhum salto válido, que lhe permitisse sequer competir com as demais, e amargou o último lugar justamente no dia da disputa pela medalha. Justamente ela, que já havia saltado várias vezes em alturas que suas adversárias jamais saltaram. Ela poderia ser a melhor, ter os melhores recursos, o melhor treinador, mas não venceu naquele dia. A ela só restou sair cabisbaixa do estádio e limpar as lágrimas.

O esporte aqui nos traz lições. Lições que podem perfeitamente ser aplicadas na vida cristã, o que há quase 2 mil anos atrás já era percebido por Paulo, como mostrado no versículo acima transcrito.

Longe dos estádios, holofotes e das câmeras de TV, mas na Bíblia e até dentro das igrejas em que convivemos, vemos histórias de pessoas que se esforçam, começam alguma obra ou um relacionamento com Deus e vão até o final de suas vidas sem vacilar. Mas vemos também pessoas que também se esforçam, buscam a presença de Deus, mas por um motivo ou outro, chegam em um momento em que elas param, “perdem o embalo” do primeiro amor e caem. E muitas delas não se levantam mais.

Vejamos um exemplo bíblico, o do jovem rico:

“E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.” (Mateus 19:16-22)

Ao olharmos a vida daquele jovem rico que se aproximou de Jesus Cristo, vemos que ele não era qualquer um. Era um judeu sério, que acreditava que Jesus Cristo era o Mestre o qual ele devia seguir e que poderia dar a ele o caminho da vida eterna. Aquele jovem ainda tinha um exemplo de vida, pois guardava cada um dos mandamentos de Deus. Era um típico judeu íntegro, que respeitava toda a lei de Deus. Tinha tudo para ser também um exemplo, um padrão de cristão a ser seguido. Mas Ele sabia que lhe faltava algo. E esse algo que foi exigido dele, ele não pôde dar. O que talvez parecia mais difícil, que é levar uma vida em integridade e em separação do mundo, ele fez. Mas na última prova, justamente na última exigência que faltava a ele cumprir para alcançar a vida eterna, ele perdeu a oportunidade de demonstrar a Jesus que aquilo que realmente importava para ele era a vida eterna, e não os seus bens que tinha na terra. Assim, foi um servo fiel por muito tempo, até ser reprovado no dia que foi testado.

O exemplo oposto é o de Paulo. Paulo sabia do chamado que ele tinha de pregar o evangelho. Em várias passagens da Bíblia, ele demonstra esse compromisso e como ele estava empenhado em trilhar os propósitos traçados para sua vida por Deus. Ele era tão comprometido, que dizia que não poderia fazer outra coisa senão pregar o evangelho, sendo que para ele, pregar o evangelho era sua obrigação (1 Coríntios 9:16). Mas Paulo diz também que o seu trabalho não se resumia a só pregar a palavra, mas levar uma vida de sacrifício em prol desse evangelho. Afinal, não haveria eficácia nenhuma no que ele dizia se ele desse recomendações tão fortes e não tivesse uma vida que expressasse sua vocação. Por isso mesmo, como um atleta que luta por uma medalha olímpica, Paulo subjugava as seu próprio corpo (1 Coríntios 9:27), negava suas vontades (Gálatas 2:20), e oferecia sua própria vida como sacrifício à Deus (Romanos 12:1).

Exatamente pelo sacrifício que Paulo fez ser sua própria vida, uma constante negação da sua própria alma, foi que permitiu com que ele terminasse a carreira da sua própria vida sem ter do que se envergonhar diante de Deus.

Se no esporte não são todos que vencem, andando com Deus não será diferente. No nosso meio, encontraremos aqueles que podem até lutar por um tempo, mas lá na frente, por não terem sido levados pela verdadeira motivação – amor a Cristo – acabaram ficando pelo caminho (1 Coríntios 9:17). Mas haverá aqueles que permanecerão, que não olharão para trás. E como Paulo, terão do que se orgulhar mesmo quando as oportunidades de fazer o bem já tiverem passado, por que terão a certeza que aproveitaram aquilo que Deus colocou em suas mãos. Somente estes serão os verdadeiros vencedores, e terão uma coroa que não se consumirá, como reconhecimento por sua perseverança e amor (Apocalipse 2:17).

Se a vida cristã também é difícil e exige sacrifícios como o esporte, aqui ao menos há uma vantagem. Você não precisa derrotar ou ser melhor que o outro. Precisa sim aprender a negar a sua vontade, viver em prol das coisas de Deus, e não do mundo. Ao contrário do atletismo, com Deus temos a certeza de que o sacrifício de nossas próprias vidas não será em vão. E independente daquilo que os nossos adversários fizerem, o prêmio reservado para os vencedores estará esperando todos aqueles que atenderem fielmente o chamado de Deus para suas vidas.

“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” (2 Timóteo 4:7)

“Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Filipenses 3:14)

domingo, 9 de agosto de 2009

O cego Bartimeu

A Bíblia nos conta, em João 20:30, que Jesus operou muitos sinais na presença de seus discípulos, tão numerosos que até inviabiliza a narração de cada um deles na Bíblia. Ficaram registrados apenas alguns dos mais marcantes, aqueles que mais poderiam trazer lições para aqueles que os lessem no futuro. E um desses sinais citados na Bíblia, e que muito nos ensina, é o da cura do cego Bartimeu, descrita no livro de Marcos:

“Depois, foram para Jericó. E, saindo ele de Jericó com seus discípulos e uma grande multidão, Bartimeu, o cego, filho de Timeu, estava assentado junto do caminho, mendigando. E, ouvindo que era Jesus de Nazaré, começou a clamar, e a dizer: Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim. E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava cada vez mais: Filho de Davi! tem misericórdia de mim. E Jesus, parando, disse que o chamassem; e chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, que ele te chama. E ele, lançando de si a sua capa, levantou-se, e foi ter com Jesus. E Jesus, falando, disse-lhe: Que queres que te faça? E o cego lhe disse: Mestre, que eu tenha vista. E Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E logo viu, e seguiu a Jesus pelo caminho.” (Marcos 10:46-52)

Uma das maiores dificuldades da vida de um cego é a de ter que acreditar nos fatos somente pelo que ouve dos outros. Um cego obviamente não tem como exercer o direito de ver as coisas como elas aconteceram, ainda que elas ocorram à sua frente. Resta somente ter impressões auditivas e acreditar naquilo que outras pessoas lhe contam.

Assim, o nível de fé de Bartimeu não difere muito da de um novo convertido do nosso tempo. Hoje não temos o privilégio de ver Jesus Cristo em carne e osso como os apóstolos viram, privilégio esse que o cego Bartimeu também não tinha. Da mesma forma que nós hoje podemos conhecer a Jesus Cristo somente pelo que seus apóstolos escreverem d’Ele na Bíblia, Bartimeu, pelo menos até ser curado, também só pôde conhecer Jesus Cristo através do que ouviu de outras pessoas comentando sobre Ele.

Contudo, mesmo sem ver a Jesus Cristo, Bartimeu teve fé que Ele podia curá-lo de sua cegueira. Uma fé que o levou o clamar de forma incessante pela atenção de Cristo. O cego não se importou com a vontade de outras pessoas, que pediam a ele que se calasse, mas continuou a clamar cada vez mais alto pela misericórdia de Jesus Cristo em sua vida.

Vemos então a história de um homem que não se importou com as circunstâncias adversas e permaneceu clamando. Vendo isso, o próprio Jesus Cristo o chamou para perto de Si e o curou. E desse milagre diversas lições podem ser tiradas.

A primeira é a de que, na nossa vida cristã, precisamos aprender a ouvir, pois quase sempre não veremos a manifestação de Deus em nossas vidas da forma que queremos. E é essa a grande dificuldade das pessoas: discernir a Voz da Verdade em seus corações. Muitos pensam que Deus só fala conosco de forma específica, direcionada, visível, como em visões ou em profecias certeiras. Muitos oram para que Deus fale com eles através de sonhos, imagens claras. Ora, quão fácil seria se Deus mostrasse Sua Vontade para nós de forma clara, nos orientando claramente antes de tomarmos nossas decisões! Mas nem sempre, ou quase nunca, Ele age assim. Pelo contrário, ele exige que nós tenhamos ouvidos atentos a Ele antes de ver. Quem de nós nunca ouviu uma pregação ou leu uma palavra na Bíblia que caiu como uma luva a um determinado tipo de problema que estamos passando. Um exemplo disso: uma pessoa está com problemas, discordando de sua liderança, e em seguida ouve uma pregação sobre refrear a língua (Tiago 1:26) ou respeitar a autoridade pastoral constituída por Deus (Romanos 13:2; Hebreus 13:17). Mas ainda assim, a maioria das pessoas, apesar de tocadas no momento da palavra, acaba no final pensando que aquilo se tratou apenas de uma simples coincidência, ou que Deus não falou claramente a ele de forma individual. Fruto da dificuldade que o ser humano tem de ser confrontado e aceitar uma palavra de exortação sobre sua vida.

E aí entra uma segunda lição que Bartimeu nos dá: a de que a nossa fé vem pelo ouvir a palavra, mas a fé é provada pela obediência. Repare que Jesus requereu uma atitude por parte de Bartimeu antes de curá-lo. Ele chamou Bartimeu para vir até Ele primeiro. Jesus tinha poder para curar aquele homem à distância ou poderia se aproximar d’Ele. Mas não fez isso. Pelo contrário, cobrou uma atitude daquele cego, e ele teve que obedecer a determinação de Jesus antes de ver a cura sobre seus olhos. Ele já havia mostrado sua fé, ao chamar Cristo de Filho de Davi e clamar por Ele. Mas teve que dar um passo a mais de fé. Precisou se levantar do chão, da posição cômoda, passar no meio daquelas mesmas pessoas que outrora o resistiram, mandando ele se calar. Teve que passar no meio aqueles homens para chegar a Cristo.

E na sua vida provavelmente não será diferente. Para que você veja algo de Deus na sua vida, Ele certamente vai exigir uma atitude da sua parte que mostre o nível de fé que você tem. Vai ser preciso que você clame a Ele, mas que não só clame, mas O obedeça. Só veremos a manifestação de Deus em nossas vidas na medida em que obedecemos a Suas determinações para nossas vidas. Mas as pessoas preferem tentar queimar etapas e acabam se frustrando ou até mesmo abandonando a fé antes de ver o cumprimento da vontade de Deus em suas vidas. As pessoas erram por achar que podem receber de Deus todas as bênçãos da mesma forma que receberam a salvação: pela graça, sem esforço ou sacrifício. As pessoas não estão dispostas a pagar o preço da obediência.

A fé vem pelo ouvir, mas se desenvolve através da obediência. Uma fé madura implica num coração disposto a obedecer a Deus. Até porque hoje em dia não é difícil ter fé. Deus tem operado tanto nas igrejas, com dons, sinais, maravilhas. Basta ligar a televisão e veremos que existem programas com pastores que passam o tempo todo exibindo milagres de Deus na vida das pessoas. Mas é através da obediência é que provamos acreditar totalmente em Deus. A obediência é a atitude de fé necessária para vermos o melhor de Deus em nossas vidas, pois a ela é uma prova que Deus tem que pode confiar em nós. A obediência é também uma prova de intimidade com Ele. O próprio Cristo disse que amigos d’Ele são somente aqueles que obedecem à Sua Vontade (João 15:14).

Exemplos na nossa vida prática são inúmeros. Muitos querem receber bênçãos na área financeira, mas não obedecem ao que Deus diz sobre plantar a semente de sua renda na igreja (2 Coríntios 9:6). Outros querem ter uma vida frutífera na igreja, mas não obedecem a vontade de Deus e teimam em não abdicar de seus caminhos escusos (1 João 1:6). Tudo isso são coisas que não são possíveis, pois Deus não é incoerente com Sua Palavra.

Mesmo no Velho Testamento vemos exemplos de verdadeiros testes de Deus com seus filhos. Moisés foi um exemplo. Ele falava com Deus, tinha um relacionamento direto com Ele, foi obediente a Deus, enfrentando o faraó e tirando o povo d’Ele do Egito, mas só depois de sua morte pode estar na Terra Prometida.

É claro que para a maioria de nós a espera pela manifestação dos sinais de Deus será menor. Mas essa manifestação não virá sem que antes sejamos provados e aprovados em nossa fé e no nível de obediência que teremos naquilo que ouvimos de Deus. Não é difícil ter revelação daquilo que Deus quer de nós. Difícil sim é ter um coração disposto a obedecer naquilo que Ele irá requerer de nós. A vida cristã é feita de provas. Provas que avaliam nossa fé e disposição em obedecer. Poucos são aqueles que têm como prioridade em suas vidas a obediência incondicional a Deus. Muitos se agarram a coisas ou relacionamentos terrenos. Em si dizem: “Deus pode me pedir qualquer coisa, menos isso...”. E às vezes é exatamente aquilo que mais guardamos é o que Deus irá nos pedir, para provar se estamos ou não dispostos a largar tudo o que temos para ver Sua glória se manifestar em nós. Assim, somente aqueles que agradam a Deus ao ouvirem e obedecerem, serão aprovados e estarão prontos para contemplar com seus olhos a operação do poder de Deus em suas vidas, assim como Bartimeu pôde ver.

“Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” (Romanos 6:16)

“Mas, como fomos aprovados de Deus para que o evangelho nos fosse confiado, assim falamos, não como para agradar aos homens, mas a Deus, que prova os nossos corações.” (1 Tessalonicenses 2:4)