domingo, 29 de novembro de 2009

O evangelho da vida através da morte

Não existe geração de vida sem que haja morte. Essa foi uma das mais importantes lições de Cristo, demonstrada através de sua morte na cruz. Nunca existiu e tampouco chegará a existir uma demonstração maior de amor do que o sacrifício de Jesus Cristo (João 15:13).

Em sua vida, sabemos que Jesus escolheu 12 homens para multiplicar o evangelho na terra. Esses homens não eram discípulos de Cristo somente porque andavam com Ele por todos os lugares que passava, mas porque foram homens nos quais Cristo olhou e viu disposição semelhante à que Ele tinha: a de entregar suas próprias vidas pela salvação de outras pessoas. E por estarem dispostos a não amarem suas vidas, se entregaram em favor da expansão do reino. Nenhum dos apóstolos morreu em camas quentes, de velhice ou morte natural, ao lado dos seus parentes. Morreram sim das formas mais tristes possíveis. Presos, exilados, crucificados em posições humilhantes. Esse foi o destino que recebeu os primeiros discípulos de Cristo.

Se a história da igreja primitiva foi banhada de sangue, no passar dos séculos a situação não mudou muito. Em Roma, cristãos eram mortos de formas bizarras, devorados por animais, queimados vivos. Na Idade Média, a religião se institucionalizou, perverteu-se, e voltou-se justamente contra os verdadeiros servos de Deus. E ainda nos dias de hoje, em dezenas de países do grupo da “igreja perseguida”, continua sendo derramado sangue de homens que amam a obra de Deus e que, como os apóstolos, se dispõem a dar seus próprios corpos pela salvação de outras pessoas.

Estes homens, que deram um verdadeiro testemunho de entrega, através de suas próprias vidas, são lembrados em Apocalipse:

“E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram.” (Apocalipse 6:9-11)

Repare que estes homens que morreram em favor do evangelho estão em posição de honra. Adquiriram o direito de repousarem tranquilos após a morte e receberem vestes brancas.

Mas a pergunta que surge é: e nós? Será que podemos bater no peito e declarar, a nós mesmos, que somos verdadeiros discípulos de Cristo? Aqui se requer uma análise mais detalhada.

Um primeiro ponto que merece ser destacado é o de que todo aquele que deseja ser discípulo de Cristo, tem que estar disposto ao sacrifício, diário e contínuo de suas próprias vontades. Veja o que o próprio Cristo disse:

“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me.” (Mateus 16:24)

Tomar a cruz é carregar um peso de algo que pode ser maior do que a sua própria vida. Quando Cristo literalmente carregou sua cruz ao Monte Calvário, Ele nada mais estava carregando o madeiro no qual Ele próprio seria pregado e morto. Qualquer um que quiser levar uma vida “carregando sua cruz”, deve saber que está levando uma vida que o levará para a morte física, na medida em que deverá deixar os projetos, desejos, sonhos da vida para trás. Isso não quer dizer que quem segue a Cristo não pode ter nenhum bem material e levar uma vida miserável, mas sim, que todo aquele que deseja ser discípulo de Cristo não pode ter o seu coração nestas coisas. Outrossim, tem que estar disposto a renunciar tudo o que tem se isso for necessário para a salvação de outras pessoas.

Paulo ensinou a Tito que o verdadeiro discípulo deveria renunciar à impiedade e a toda a concupiscência mundana (Tito 2:12). Jesus Cristo, antes dele, já havia sido ainda mais enfático: ninguém que não estiver disposto a renunciar tudo que tem não poderia ser discípulo d’Ele (Lucas 14:33).

Além do sacrifício, a Bíblia nos ensina também a lição do amor ao próximo. Veja o que Cristo dizia:

“E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. E o escriba lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele; E que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios.” (Marcos 12:29-33)

Repare que toda a lei do Velho Testamento pôde ser reduzida a apenas dois mandamentos: amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo. Quem leva uma vida de sacrifício na terra, negando aquilo que é do mundo, está demonstrando que ama a Deus. Mas demonstrar apenas o amor a Deus não é suficiente.

Cristo não ensinou o sacrifício puro e simples, mas um sacrifício motivado. Não se trata de fazer penitências ou violentar a si mesmo, mas de um sacrifício em benefício de outras pessoas. Quando amamos ao próximo como a nós mesmos, não nos ficamos tranqüilos com a idéia que nós estamos salvos e outras pessoas não. Se você ama duas pessoas de forma igual, você quer que ambas tenham benefícios semelhantes. Os que se negam a trabalhar pela salvação de outros, não é discípulo, porque ser discípulo é entender que a salvação da alma do seu próximo vale tanto, que se for preciso dar a sua própria vida por ela, você dará.

Entretanto, pouca gente está disposta a amar o evangelho de Cristo e a vida de outras pessoas a ponto de oferecer a sua própria vida para isso. Existem muitos “cristãos por conveniência”, que não demonstram uma fé verdadeira, como a de Paulo, que mesmo nunca tendo visto a Cristo, creu n’Ele e não se intimidava diante da morte (Filipenses 1:21). E essa é uma marca de uma fé genuína: ela resiste à morte.

Cristo não nos livrou do peso da lei simplesmente por ser bonzinhos conosco ou por amar mais a nós do que aos judeus, mas para nos dar uma tarefa não menos fácil do que seguir a lei: o encargo de amar a vida dos outros. Só experimenta uma vida cristã real e íntima aquele que entende que a maior prioridade de Deus não é abençoá-lo, mas usar a sua vida para abençoar outras pessoas.

Na Alemanha nazista, muitos judeus não estavam dispostos a morrer nos campos de concentração ou nas câmaras de gás de Hitler. Assim, muitos preferiram se esconder ou pior, se vestiam como nazistas para escapar da perseguição e restarem vivos após a guerra. Negavam de onde vieram e o que acreditavam para continuarem vivos. E assim faz hoje a maioria dos cristãos. Querem continuar sendo cristãos, mas não querem pagar o preço que o verdadeiro discípulo paga, de sacrifício contínuo e de amar a vida daquele que às vezes sequer conhece.

Deixar de pregar o evangelho, de levar uma vida de sacrifício e de amar o próximo, é uma negligência de graves conseqüências. Milhões de pessoas no mundo deixarão de ser salvas porque outros milhões de cristãos terão se prendido numa “vida cristã” egoísta, que não terá ido além da mera busca de atendimento de mesquinhas necessidades pessoais. A Bíblia diz que aqueles que não serão salvos, não o serão porque não receberam o amor da verdade para se salvarem (2 Tessalonicenses 2:10). Muitos não são salvos, porque simplesmente jamais puderam ver o que é esse amor, porque os cristãos que ele conheceu em vida não lhe mostraram isso. O amor de Deus só é expresso aos homens através de seus servos, e o número de salvos deixará de crescer na medida em que os filhos de Deus se esquecerem do seu principal papel: levar o amor de Deus para aqueles que não o conhecem.

Não é fácil viver uma vida de renúncias. Negar a si mesmo não é tarefa simples num mundo cheio de facilidades e ofertas sedutoras como o nosso. Mas asseguro que muito mais difícil e dolorosa do que qualquer transitória vida de sacrifício, será chegar na eternidade e não ter frutos dos quais se orgulhar, nem vestes brancas para receber.

“O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.” (Apocalipse 3:5)

Por fim, uma última pergunta: você ama mesmo a Cristo? Antes de responder a essa pergunta e mesmo antes de entoar cânticos prontos dizendo que ama a Deus, entenda o que isso significa, e que se isso realmente for verdade em seu coração, você certamente será cobrado e testado pelo que disse. O amor não se manifesta sendo falado, mas em ações práticas e eficazes. E a única forma de demonstrar o amor a Deus é através da disposição em seguir um evangelho que gera vida à custa da morte daquele que ama às verdades da palavra que segue..

“Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á.” (Mateus 10:39)

domingo, 15 de novembro de 2009

A cultura do relativismo

Nas últimas décadas em nosso país, cresceu significativamente o número de igrejas evangélicas sob denominações diferentes. Nas grandes cidades, a cada bairro que freqüentamos, nos acostumamos a deparar com uma igreja de nome diferente, da qual muitas vezes nunca tínhamos ouvido falar.

Em parte isso é muito bom. Saber que existem igrejas por toda parte nos faz, em primeira análise, presumir que há também um número significativo de evangélicos nessas regiões, o que prova o crescimento do número de cristãos. Só que esse crescimento às vezes se dá de forma desordenada. Ao mesmo tempo em que cresce o número de igrejas, cresce também a quantidade de doutrinas divergentes entre essas denominações. Assim, essa “expansão doutrinária” tem feito com que muita gente se diga evangélica mas, sem o devido esclarecimento, estão freqüentando igrejas que pregam palavras que em nada contribuem para que elas se aproximem do verdadeiro conhecimento de Deus.

Mas, ao contrário desses contraditórios evangelhos pregados entre as igrejas, a Bíblia não se contradiz. Logo, interpretações diferentes aplicadas num livro que possui uma estruturação lógica única, não resultam em outra coisa senão num relativismo bíblico.

Relativismo, como sugere o próprio nome, é uma prática que repudia qualquer verdade ou valor absoluto. Nessa linha de pensamento, não existiria um conceito único do que seja “verdade”, mas sim, idéias que variam conforme a época, o lugar, o grupo social e os indivíduos. É como se nada fosse certo, tudo dependesse do ponto de vista analisado. E é assim que as igrejas têm se comportado nos últimos anos.

Há igrejas que decretam a forma que as pessoas devem se vestir, sendo que outras igrejas deixam isso à escolha do crente. Há igrejas que determinam onde as pessoas de cada sexo devem se sentar, outras não. E há igrejas que consideram determinados comportamentos como sendo pecado, e outras aceitam o mesmo tipo de conduta como comum, normal. E esse último é o ponto mais frágil da questão do relativismo: quando as pessoas perdem a noção real do que seja pecado e acabam aceitando determinados comportamentos pecaminosos em suas vidas como se esses comportamentos não o fossem.

Uma conseqüência direta disso é que a igreja tem se acostumado a “reciclar” valores do mundo e trazê-los para dentro da igreja. Muitos crentes querem ser parecidos demais com o mundo, querem ouvir o mesmo tipo de música, vestir as mesmas roupas, ir para os mesmos lugares, na crença de que isso não os farão estarem mais distantes de Deus. Quando chegam novos convertidos na igreja, eles não são incentivados a mudar de comportamento, apenas reformular suas velhas práticas sob um padrão “gospel”, num mundo onde tudo – bares, boates, músicas, festas – faz lembrar as mesmas coisas que eles já experimentaram antes de vir para a igreja.

Já entre o meio adulto, o relativismo se traduz em conformismo. Os crentes já não sentem o mesmo desejo de pregar o evangelho, de levar pessoas a conhecer a Deus. Outrossim, as pessoas só têm se agradado de palavras neutras. Daquelas que você escuta, vai embora, e volta para casa como se nada tivesse ouvido. Nós estamos tão acostumados com o mundo – trabalho, estudos, problemas pessoais – que deixamos de ter as coisas de Deus como prioridade. A Bíblia mesmo diz que nos últimos dias as pessoas amariam tanto as coisas do mundo e estariam tão cheias de iniqüidade, que elas se tornariam pessoas frias no amor (Mateus 24:12).

Além disso, o relativismo também nos faz perder referenciais. E tem muita gente perdendo o referencial daquilo que é ser santo, na medida que a santidade deixou de ser um valor a ser cultivado. Prega-se no meio das igrejas que Deus sempre está disposto a perdoar, como o pai que perdoou o filho pródigo mesmo depois de tantos erros. Assim, pecar e pedir perdão tem sido para muita gente uma prática tão comum quanto respirar, algo que as pessoas estão acostumadas a fazer. É claro que somos perdoados quando confessamos os pecados, mas não há uma confissão sincera sem arrependimento. E o arrependimento implica em mudança de postura, em abandono do pecado, que deixa de ser uma prática reiterada. Veja o que a Bíblia diz sobre o pecado:

“Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14)

Nessa certeza do eterno perdão, sem mudança de comportamento, está um grande erro. O perdão de Deus não pode servir de justificativa para a prática pecaminosa contínua, desenfreada. Se a pessoa se diz cristã, mas mantém uma conduta permissiva ao pecado, não buscando a santidade como valor a ser seguido, certamente ela precisará analisar se realmente nasceu de novo e se tornou-se mesmo uma nova criatura (2 Coríntios 5:17; Gálatas 6:15).

Assim, quem tem que mudar de postura e se ajustar, somos nós, e não a Bíblia. Em nosso tempo, muita gente tem dito que a Bíblia é um livro antigo, que valeu para dois mil anos atrás, e que para ser adequadamente compreendido precisaria ser contemporizado, relativizado, adaptado ao nosso tempo. E assim, criam suas próprias interpretações para a Bíblia ao invés de moldar seu comportamento a partir dela, o que é um erro crasso.

A verdade é que o evangelho não precisa ser adaptado para uma sociedade que “mudou muito nos últimos dois mil anos”. É preciso que entendamos algo: por mais que possa parecer o contrário, a Bíblia não foi escrita para os homens dos tempos dos apóstolos. Até porque o Novo Testamento só foi adequadamente publicado e popularizado para vários idiomas apenas nos últimos séculos. E, definitivamente, não haveria motivo para Deus inspirar homens para escrever uma série de recomendações para que estas precisassem ser “reformadas” tão rapidamente. Muita gente tem rejeitado quase tudo que Paulo falou, sob o argumento que Paulo viveu em outros tempos, em outra cultura. Mas a verdade é que Deus não fala de cultura, mas de santidade, separação. Se nós estamos pautando nossa conduta a partir de uma “cristianização” dos comportamentos do mundo, isso não pode ser chamado de santo. Pelo contrário, estaríamos, nessa hipótese, caminhando rumo à mornidão espiritual, nos contentando com aquilo que parece bom, mas ao mesmo tempo está contaminado com a “aparência do mal”. Não precisamos reinterpretar a Bíblia, ela não está ultrapassada. Nós é que estamos a enxergando como uma jaula, de onde precisamos sair para termos “liberdade” para agir conforme nossos tolos princípios. Sobre o evangelho pregado na Bíblia, veja o que Paulo dizia:

“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.” (Gálatas 1:8 e 10)

Paulo não está dizendo outra coisa, senão que os padrões do evangelho bíblico não podem ser mudados no tempo! São palavras eternas. A Bíblia não permite “reinterpretação reformuladora”. Nem tampouco foi escrita para agradar nossas vontades, mas para nos mostrar um padrão, um modelo de conduta que precisa ser seguido por todos aqueles que querem se intitular servos de Deus.

Sobre a importância de se andar em santidade, J.C. Ryle (1816-1900) também falava algo que merece ser considerado:

“Os verdadeiros servos de Cristo sempre foram diferentes do mundo que os cercava — uma nação santa, um povo peculiar. E você tem de ser assim, se deseja ser salvo! Você pode argumentar que a este custo poucos serão salvos. Eu respondo: Eu sei disso. É exatamente sobre isso que nos fala o Sermão do Monte. O Senhor Jesus disse, há muitos séculos atrás: “E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” (Mateus 7:14) Poucos serão salvos, porque poucos se dedicarão ao trabalho de buscar a salvação. Os homens não renunciarão aos prazeres do pecado, nem aos seus próprios caminhos, por um momento sequer.”

Antes de servir-se das “bandejas reformadas”, aceitando tudo aquilo que se diz “pseudo-gospel-evangélico”, mas parecem ser padrões meramente adaptados do mundo, lembre-se de algo: sem uma vida de santidade, ninguém verá o Senhor. E se algo não promove em você uma aproximação a Deus, pode estar certo que terá o efeito contrário: fará com que você seja um cristão afastado de Deus e da Sua Palavra.

Por fim, afirmo com segurança que o maior termômetro para sabermos o quão próximos estamos de Deus precisa ser a Bíblia. Pegue as cartas de Paulo e compare ao que você tem vivido e ao que a sua igreja tem pregado. Se houverem poucas semelhanças, talvez esteja na hora de você realinhar suas motivações a respeito da obra de Deus e analisar se a igreja que você está freqüentando realmente tem pregado um evangelho genuinamente bíblico. Muita coisa precisa ser mudada quando percebemos que estamos indo na igreja por religião, passatempo ou para “encontrar amigos”. O verdadeiro evangelho de Deus nos confronta, nos exorta e nos leva a uma constante mudança de atitude. Não ao conformismo e a uma vida onde não se faz sacrifício algum para se seguir a Deus.

“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.” (Filipenses 4:8)

domingo, 1 de novembro de 2009

Não andeis ansiosos

Há pequenos trechos na Bíblia que nos trazem muitas lições. E uma das partes da Bíblia que mais nos ensina a respeito como lidar com a ansiedade e aprender a ter fé na provisão de Deus está no livro de Filipenses:

“Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.” (Filipenses 4:6-7)

Desses dois versículos transcritos podemos então tirar no mínimo 4 importantes lições, que são características de uma fé madura em Cristo.

1. Não andeis ansiosos: A primeira parte do versículo 6 diz que não devemos andar inquietos, ansiosos por coisa alguma. Mas o que é exatamente a ansiedade?

Em sucintas palavras, ansiedade é um comportamento humano “que antecede momentos de perigo real ou imaginário, marcada por sensações corporais desagradáveis”.

É muito comum vermos nas igrejas muitas pessoas ansiosas, que se preocupam demais com aquilo que elas acham ser necessário para elas. Muitos dizem “preciso de oração porque eu sou muito ansioso”. Mas a ansiedade não se resolve com oração somente. Para que a pessoa deixe de ser ansiosa, é necessário que ela esteja disposta a mudar seu comportamento, sua forma de ver as situações que vive, e ter um coração ensinável por Cristo para aceitar que ter ansiedade é uma falha em si mesma que depende de sua vontade para ser resolvida. O mundo tenta nos impor a idéia de que a ansiedade é uma doença, mas para o cristão, a ansiedade não passa de uma postura que reflete falta de fé e de confiança na provisão de Cristo. É hipócrita o que diz que acredita e confia no cuidado e na provisão de Deus, mas apresenta traços de ansiedade em sua vida (1 Pedro 5:7). A ansiedade se opõe a uma fé madura e genuína em Cristo.

Uma outra característica comum em pessoas ansiosas é que elas também desejam coisas que elas ainda não estão preparadas para receber (Lucas 12:26). No nosso mundo, onde tudo tem que ser fácil e “para agora”, as pessoas aprenderam a valorizar muito mais o que elas ainda não conseguiram em detrimento do que elas já receberam. A ansiedade é fruto de um sentimento incompatível com outra necessidade muito mais importante que temos, que é a de crescermos de forma gradual, sem tentar queimar etapas necessárias ao nosso aprendizado em cada situação da vida. A ansiedade nos faz perder o prazer e a chance de aproveitarmos o tempo da oportunidade, o agora, para aprendermos o valor da espera e fazermos a Vontade de Deus sem se preocupar com aquilo que ainda não é para o nosso tempo ou para o qual ainda não estamos prontos. Afinal, a coisa certa no momento errado, é a coisa errada.

2. Ter nossas petições conhecidas diante de Deus pela oração e súplica: Além de evitar comportamentos ansiosos, Paulo nos ensina a apresentar TUDO aquilo que queremos diante de Deus.

O ato de pedir, seja a Deus ou aos homens, possui dois princípios implícitos: o primeiro é de que só faz pedidos aquele que reconhece que precisa de alguma coisa. Quando uma pessoa pede algo a outra, ela está reconhecendo que precisa daquilo, e que não tem condições de obter isso sozinha, por suas próprias forças; o segundo princípio é o de que nós só pedimos a quem entendemos que pode nos ajudar.

Por isso, sempre que colocamos nossos pedidos diante de Deus, estamos reconhecendo implicitamente que precisamos do Seu favor em cada uma das petições apresentadas e, mais do que isso, reconhecemos que Ele poderá nos atender.

Há pessoas que tentam “reduzir ao necessário” as suas orações. Uns só pedem bênçãos materiais, pois erradamente acreditam que a edificação de sua vida espiritual depende somente de atos voluntários de sua parte. Outros só fazem “pedidos espirituais”, pois acreditam que não se deve pedir nada material a Deus, pois “Deus sabe todas as coisas” ou “em tudo devemos dar graças”.

É claro que as pessoas são diferentes, mas a regra geral não é nenhuma das descritas no parágrafo anterior. Pelo contrário. A Bíblia nos ensina que tudo o que queremos deve ser colocado na presença de Deus. Não só porque Ele é quem tem o poder de abençoar e por isso nos atenderá, mas porque quando colocamos algo em oração, estamos submetendo a nossa vontade à de Deus, na medida em que nos dispomos a ouvir de Deus uma resposta d’Ele, ainda que não seja compatível com a nossa vontade. Muitas vezes o próprio Espírito fala ao nosso coração se a vontade de Deus é a mesma que estamos pedindo, ou se Ele tem para nós projetos diferentes, e maiores, do que aqueles que temos colocado diante d’Ele. Assim, apresentar todos os nossos desejos diante de Deus implica em afirmação de total dependência de Deus, em todas as áreas de nossas vidas.

Ao lado da paciência, que é oposta à ansiedade, está a perseverança na oração (Romanos 12:12). Só persevera na oração aquele que realmente espera pela resposta de Deus no tempo d’Ele. Não raro Deus usa o tempo para nos provar. Há situações em que para nos abençoar, Deus precisará saber se a nossa fé é limitada e facilmente sucumbe ao pequeno sinal de que se deve esperar mais do que pensa, ou se estamos realmente esperando pacientemente n’Ele.

3. Com ação de graças: Além de pedir e esperar sem ansiedade, existe uma outra característica daquele que confia: ele agradece antes mesmo de ver aquilo que ele pediu se concretizando.

Existem também determinadas situações em que a nossa confiança em Deus só será demonstrada quando apresentarmos um coração grato. Não um falso agradecimento, que vem só dos lábios. Mas um agradecimento genuíno, daquele que sabe que receberá de Deus.

Uma dos sinais da pessoa que tem um coração grato é que ela se compromete com o tempo de Deus. Quem realmente espera com gratidão não “exige” que a bênção seja imediata, mas está disposto a recebê-la com alegria no tempo que lhe for dada. E há provas suficientes para afirmarmos que Cristo valoriza um coração grato, assim como valorizou o único dentre 10 leprosos que foi curado e voltou para agradecer (Lucas 17:18).

O agradecimento é também um ato pelo qual nós glorificamos à Deus pelo que Ele nos dá. Deus terá prazer em abençoar aquele que agradece antes de receber, pois saberá que este reconhecerá que não conseguiu sozinho, mas sim que foi Deus quem lhe abençoou.

Não basta perseverarmos na oração. Precisamos também orar em ação de graças. Isso é um princípio bíblico (Colossenses 4:2)!

A fé verdadeira é baseada na certeza daquilo que se espera, sem que tenhamos visto antes (Hebreus 11:1). E é fato que o homem só agradece em duas situações: depois que já recebeu ou quando já tem certeza que receberá. E não há demonstração alguma de fé senão na segunda situação.

4. Ter nosso coração guardado na paz de Deus. O que evita ser ansioso, permanece em oração e com um coração grato, também espera, com paz no coração, a resposta para suas orações no tempo de Deus. Assim, ter um coração guardado na paz de Deus será uma conseqüência na vida daquele que aprendeu as três lições anteriores.

“Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno.” (Hebreus 4:16)

O que espera em Deus tem certeza que será ajudado “no tempo oportuno”. E nós não tempos o poder de antever nosso futuro e por isso não sabemos quando é chegado o melhor tempo para sermos abençoados. Tendemos sempre a achar que estamos prontos para recebermos todas as bênçãos, mas Deus sabe que as coisas não são assim, pois Ele, além de conhecer o futuro, também conhece o coração humano melhor do que o próprio homem (Jeremias 12:3). E você pode estar certo de que Deus será fiel para com seus verdadeiros servos e saberá – muito melhor do que você - a hora certa para abençoá-lo se esperares pacientemente n’Ele.

“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Romanos 8:28)