domingo, 23 de maio de 2010

O terrível sentimento de culpa (II)

Nós não merecemos o perdão de Deus. Assim como a salvação, o perdão por nossos pecados é algo que recebemos pela graça. Graça essa advinda do sacrifício de alguém que deu seu próprio sangue inocente para que nós fossemos livres de toda culpa a partir do momento em que confessamos nossos pecados (Colossenses 2:14).

No Direito, a comprovação da culpa de um criminoso só existe após a acusação. Diante das leis humanas, todos são inocentes, até o momento em que são acusadas e são encontradas provas de que essa acusação é verdadeira, e aí sim a pessoa é condenada. Nem todo que é processado é culpado, alguns são absolvidos, e outros condenados. No mundo espiritual, as coisas acontecem de forma semelhante: há alguém que, quer estejamos certos ou errados, ele sempre nos acusa, que é o chamado de “acusador de nossos irmãos” e que, segundo a Bíblia, dia e noite nos acusa diante de Deus (Apocalipse 12:10)

Assim, o perdão é um favor para nós concedido, ainda que imerecidamente. Por isso sempre que você olhar para si mesmo pensando que pode se justificar diante de Deus por seus erros, você estará errado! Eu conheço uma pessoa que diz que sempre que ouve uma pessoa se justificar muito, ela pensa que ele certamente está mentindo, porque a verdade não precisa ser justificada, apenas apresentada. E isso pode não ser uma regra, mas se aplica em muitos casos.

Muitos de nós estabelecemos “hierarquia de pecados”. Achamos que Deus facilmente nos perdoa de pecados leves, mas que Ele “dificulta” o perdão no caso de pecados mais graves. É claro que isso não existe! O perdão de Deus abrange todo e qualquer pecado, por mais grave que seja, desde que aquele que o confesse demonstre arrependimento, confessando e deixando de praticar aquele pecado (1 Coríntios 6:9-11). Se existe diferença, essa reside nas conseqüências do pecado! Diante de Deus, no dia do juízo, e agora, diante dos homens, é evidente que nós temos responsabilidades e por isso, temos que prestar contas de nossos atos e colher frutos advindos de nossos erros. As conseqüências variam, mas o perdão de Deus é o mesmo e abrange qualquer pecado cometido contra nossos irmãos, ainda que estes se neguem a nos perdoar.

Um personagem da Bíblia que já entendia que poderia ser perdoado, mesmo antes da morte de Cristo, foi Davi. Davi foi um homem que cometeu inúmeros pecados. Alguns deles bastante reprováveis. Cometeu adultério e inclusive provocou a morte de outra pessoa. Enfim, cometeu pecados que maioria de nós jamais cometerá. Mas além de ser alguém que pecava, ele era um homem que sabia se arrepender de seus pecados e que chegou a ser chamado de “homem segundo o coração de Deus”.

Davi cometeu os piores pecados, mas ainda assim foi chamado homem segundo o coração de Deus. Em muitas vezes que o diabo culpou Davi diante de Deus, as acusações não eram sem fundamento. Mas Davi sabia reconhecer seus próprios erros e a clamar pelo perdão de Deus.

“Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. (Selá.) Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado. (Selá.) (Salmo 32:4-5)

Naquele tempo, Cristo ainda não havia morrido pelos pecados dos homens. Assim, o perdão não era algo tão fácil como nos nossos dias. Mesmo assim, Davi clamava pela misericórdia de um Deus que poderia apagar as suas transgressões (Isaías 43:25; Ezequiel 18:21-22)

Davi pecou, mas encontrou liberdade dos seus pecados e sentimentos de culpa diante de Deus. E é diante de Deus, e não do diabo, que somos livres de nossa culpa.

Mas a primeira coisa que pode vir à nossa mente é o fato de que com esse perdão que Deus nos dá nós podemos pecar de forma desmedida que ainda assim seremos perdoados. A princípio esse pensamento pode parecer verdadeiro, mas esse jamais deve ser o pensamento do crente, nascido de novo. Aquele que nasceu de novo, deixa o pecado. Essa é uma demonstração clara na vida daquele que serve a Cristo. Se a pessoa tem o pecado como uma prática sistemática em sua vida, é sinal de que a sua consciência está cauterizada, como se ainda estivesse no mundo. Seria como dizer a Cristo que o aceita como Senhor de sua vida, mas demonstrar com seus próprios atos que não guarda as suas palavras. Uma das maiores demonstrações de amor à Deus está na obediência à seus mandamentos, e aquele que ama mais o pecado do que as ordenanças de Deus, mostra que ainda não ama a Deus da maneira um filho deve amar um pai (João 14:21). Por mais que pareça que o perdão de Deus não exija mudanças de nós, é necessário entender que ter o pecado como um costume e dizer que ama a Deus é por demais contraditório! Não dá para dizer que é nascido de novo sem deixar para trás as obras do velho homem, pois aquele que é nascido de Deus anda em novidade de vida (Romanos 6:4)

Prova disso era a maneira que Cristo lidava com os pecadores que Ele curava: Ele não os condenava por seu passado, mas dizia a eles para não pecarem mais (João 5:14; João 8:11). E a questão do pecado reiterado é séria. Quem peca demais ou tem o pecado como hábito, dá legalidade para demônios agirem contra sua vida. Quem não está em comunhão com Deus, vivendo em pecado, tem em seu coração um espaço aberto para demônios agirem de forma cada vez mais “legalizada” (Lucas 11:26).

Mesmo sabendo que o diabo nos acusa até por pecados pelos quais já arrependemos e confessamos, há situações em que o sentimento de culpa que se passa em nosso interior tem razão. São situações em que estamos em pecado. Aqui o problema não é simplesmente entender o perdão de Deus e rejeitar a acusação maligna, e sim tomar atitudes práticas, arrependendo-se e confessando o pecado cometido. Perceba que o arrependimento precede a confissão, pois não adianta confessarmos nossos erros com os lábios sem que tomemos a decisão de não dar mais espaço para o pecado em nossas vidas! Em Salmos 32, Davi pecou, sabia que o sentimento de culpa não era em vão, mas se arrependeu e depois clamou pelo perdão de Deus. Assim, quando o pecado é um problema crônico em nossas vidas, ele deve ser enfrentado, para que o arrependimento seja real e implique em mudança de comportamento.

Devemos também pedir a Deus que nos mostre quais são os pecados que cometemos e que precisam ser confessados, pedindo perdão de forma sincera e ao mesmo tempo específica. Repare abaixo que Davi clamou a Deus para que perdoasse até mesmo os pecados que ele não se lembrava. Isso é bastante comum no caso de novos convertidos, que evidentemente não se lembrarão de todos os pecados que cometerem. Aqui o mais importante não é ter uma excelente memória para lembrar de todos os pecados, mas sim, desejar, de coração sincero, abandonar a prática de cada um dos pecados que cometeu até conhecer a Cristo.

“Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos.” (Salmos 19:12)

É importante termos em nós a certeza de que Deus nos perdoou dos pecados que confessamos. Sempre que sentimentos de culpa vierem sobre nossa mente e forem relativos a pecados que já confessamos, devemos rejeitar esses sentimentos de culpa como sendo falsos! Ora, se Deus mesmo apagou nossas transgressões com o seu perdão, não somos nós que precisamos ficar lembrando daquilo que já foi deixado.

Sabemos que Deus não mente. Ao contrário, Ele é fiel ao que diz em Sua Palavra. Se ele diz que a Sua misericórdia se renova diariamente e que Ele perdoa os pecados que são confessados, temos o direito de tomar posse desse perdão para nós. E mais do que isso: temos autoridade dada por Deus para repreender aquele que falsamente nos acusa, tentando nos impedir de ter paz e alegria que só são completas quando estamos livres da escravidão do pecado e em plena comunhão com Deus.

“Misericordioso e piedoso é o SENHOR; longânimo e grande em benignidade. Não reprovará perpetuamente, nem para sempre reterá a sua ira. Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos recompensou segundo as nossas iniqüidades. Pois assim como o céu está elevado acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem. Assim como está longe o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões.” (Salmos 103:8)

“Vinde então, e argüi-me, diz o SENHOR: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã.” (Isaías 1:18)

“Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 João 2:1)

domingo, 9 de maio de 2010

O terrível sentimento de culpa (I)

No último domingo, durante o momento da ceia, um de meus discípulos se negou a receber o pão e o vinho, quando a mesma foi distribuída. Dias antes, ele mesmo havia me contado que vinha sendo tomado em sua mente por sentimentos de culpa. E depois entendi que foi esse mesmo sentimento que o fez não querer participar daquele momento do culto.

Sentimentos de culpa entre os cristãos sempre existiram. É muitas vezes é o nível de culpa na consciência do cristão que pauta o seu comportamento na igreja. É típico daqueles que carregam tal sentimento a tendência ao isolamento, seja por não se sentirem dignos de estarem em comunhão com os demais ou por terem medo de ter suas falhas expostas. É possível analisar o sentimento de culpa dividindo-o em três tipos básicos de comportamentos comuns, todos igualmente errados, de alguém que se sente culpado.

O primeiro é o grupo dos que fogem da culpa. São aqueles que levam uma vida permissiva, sem se preocupar com as implicações de seus atos. Individualistas, geralmente são estes os que negam que existe pecado. Negam sua existência, para negar a culpa proveniente da sua prática. A consciência das pessoas desse grupo é cauterizada, e fazem parte dele apenas pessoas que ainda não nasceram de novo, e que portanto não têm clara consciência do pecado e suas conseqüências.

Há um segundo grupo, daqueles que ao invés de aceitar a culpa, acreditam que podem amenizar os seus efeitos sobre sua consciência através da prática de boas obras. O pensamento íntimo desse tipo de pessoa é semelhante ao dos fariseus. Pensam que podem ser considerados como homens bons se praticarem atos bons aos seus próprios olhos. Dentro desse grupo, há ainda aqueles que acreditam na reencarnação e no entendimento destes, se praticarem muitos atos de solidariedade, poderão ser beneficiados com um nascimento em condição melhor numa “próxima vida”.

Um último grupo é o daqueles que sustentam um pensamento medieval, de auto-flagelação, acreditando que podem remir a si mesmos, na medida que em imponham sofrimento a si mesmos. Na Idade Média e até mesmo ainda hoje, algumas pessoas chicoteiam o próprio corpo, amarram metais pontiagudos em si ou aplicam outros tipos de flagelos sobre seus corpos, na esperança de voltarem a um estado anterior de inocência, livres da culpa trazida pela prática do pecado.

Mas como eu disse anteriormente, todos os três representam comportamentos inadequados e que pouco contribuem para a extinção definitiva desse sentimento ou de seus efeitos. Se no primeiro a conseqüência do pecado será surpreendente e mortal, nos demais a culpa resultante do pecado sempre será um fardo a ser carregado diariamente.

Existe uma verdade bíblica: todos nós pecamos, e o pecado traz consigo morte espiritual, nos afastando de Deus (Romanos 3:23; Romanos 6:23; Isaías 59:2). Se nós pecamos, evidentemente estamos sujeitos a sermos culpados. Assim como um homicida fica em dívida com a sociedade até que sua pena de prisão seja totalmente cumprida, nós também ficamos “em dívida” com Deus a partir do momento em que pecamos.

Mas ao contrário do homicida, que necessariamente terá que passar pela cadeia, nós temos um meio de ficar livres do castigo eterno resultante do pecado. E a Bíblia nos diz que meio é esse:

“Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Isaías 53:5).

Veja que Jesus Cristo foi ferido em razão de nossos pecados. O auto-sacrifício de Jesus pagou o preço por nossos pecados. É como se existisse uma sentença de pena de morte decretada contra todos nós, para cobrir nossa culpa pelos pecados que nós todos praticamos. Aí vem um homem, reconhecidamente inocente, nos tira do corredor da morte, e entra em nosso lugar. Isso é uma das expressões mais maravilhosas do amor de Deus por nós. Conheço um sábio pastor que diz que amor de verdade não é aquele que aparece no final de filmes hollywoodianos românticos, mas sim, o retrato de um homem pregado numa cruz. E é esse amor de verdade que apaga aquilo que nos condena e que traz verdadeira paz para dentro de nós, como se não tivéssemos pecado.

Exatamente por causa desse sacrifício, é que nós, que recebemos a Cristo e reconhecemos o seu poder para nos perdoar, não precisamos carregar o peso da culpa. O tratamento de Deus conosco não é segundo a Lei, mas de acordo com a Graça. Por ela somos salvos, e graciosamente também somos perdoados (1 João 1:9), na medida em que nos arrependemos. O caminho do pecado em nós, a partir do momento em que tomamos consciência dele, é confessá-lo, deixando de praticá-lo, e ser perdoado. Não há espaço para sentimentos de culpa. A culpa só gera remorso, e remorso é diferente de arrependimento.

Enquanto o arrependimento é motivado por um desejo de mudança de postura, o remorso é motivado pelo medo. Quem sente remorso, sabe que cometeu ato injusto, e acredita que será submetido a punição severa. Por isso, na origem da auto-flagelação não está o arrependimento, mas sim o remorso, já que a pessoa impõe a si uma punição “suportável”, acreditando que assim poderá fugir de uma punição futura, a qual acredita ser mais difícil de suportar.

O grande problema do sentimento de culpa é que esse sentimento é sempre fruto de um entendimento errado. Das duas, uma: ou a pessoa sente apenas remorso pelo pecado cometido (não se arrependendo, e assim não desejando, de fato, abandonar o pecado) ou ela simplesmente ignora o poder do perdão divino, que é o único meio dela ser livre da culpa!

Nesse final de semana eu evangelizava uma pessoa, e ela me dizia que até achava interessante ir na igreja, mas ela não conseguia permanecer seguindo a Deus porque não conseguia deixar a mentira. Na ocasião eu disse a ela que mesmo após nascidos de novo nós pecamos, mas a diferença é que não pecamos mais deliberada, e sim acidentalmente. Além disso, entregamos nossas fraquezas a Deus, para que Ele tome o controle e nos ajude a vencer o pecado, pois o Senhor é quem transforma, através da sua maravilhosa graça, cada um dos problemas e pecados em nosso coração.

Entender nossas próprias fraquezas e nossa total incapacidade de anular sozinho a culpa resultante de nossos pecados é o primeiro passo para entender a grandiosidade do amor e do perdão que temos direito desde o momento em que Cristo deu Sua Vida por nós. É a cruz que nos livra da culpa! Precisamos entender que não podemos “compensar” o pecado que gera esses sentimentos de culpa, mas conhecendo a Palavra de Deus podemos ficar livre das acusações do diabo, sejam elas falsas ou verdeiras. Não precisamos nos penitenciar, achando que assim vamos aplacar o sentimento de culpa. Todo o sacrifício para “limpar nossos antecedentes” diante de Deus já foi feito, na cruz do Calvário, e a eficácia desse sacrifício é eterna.

No próximo artigo, falarei a respeito de um homem da Bíblia que soube se comportar diante da culpa resultante de seus pecados.

“Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados.” (Hebreus 10:14)

“E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas, Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo.” (Colossenses 2:13-15)

No último domingo, durante o momento da ceia, um de meus discípulos se negou a receber o pão e o vinho, quando a mesma foi distribuída. Dias antes, ele mesmo havia me contado que vinha sendo tomado em sua mente por sentimentos de culpa. E depois entendi que foi esse mesmo sentimento que o fez não querer participar daquele momento do culto.

Sentimentos de culpa entre os cristãos sempre existiram. É muitas vezes é o nível de culpa na consciência do cristão que pauta o seu comportamento na igreja. É típico daqueles que carregam tal sentimento a tendência ao isolamento, seja por não se sentirem dignos de estarem em comunhão com os demais ou por terem medo de ter suas falhas expostas. É possível analisar o sentimento de culpa dividindo-o em três tipos básicos de comportamentos comuns, todos igualmente errados, de alguém que se sente culpado.

O primeiro é o grupo dos que fogem da culpa. São aqueles que levam uma vida permissiva, sem se preocupar com as implicações de seus atos. Individualistas, geralmente são estes os que negam que existe pecado. Negam sua existência, para negar a culpa proveniente da sua prática. A consciência das pessoas desse grupo é cauterizada, e fazem parte dele apenas pessoas que ainda não nasceram de novo, e que portanto não têm clara consciência do pecado e suas conseqüências.

Há um segundo grupo, daqueles que ao invés de aceitar a culpa, acreditam que podem amenizar os seus efeitos sobre sua consciência através da prática de boas obras. O pensamento íntimo desse tipo de pessoa é semelhante ao dos fariseus. Pensam que podem ser considerados como homens bons se praticarem atos bons aos seus próprios olhos. Dentro desse grupo, há ainda aqueles que acreditam na reencarnação e no entendimento destes, se praticarem muitos atos de solidariedade, poderão ser beneficiados com um nascimento em condição melhor numa “próxima vida”.

Um último grupo é o daqueles que sustentam um pensamento medieval, de auto-flagelação, acreditando que podem remir a si mesmos, na medida que em imponham sofrimento a si mesmos. Na Idade Média e até mesmo ainda hoje, algumas pessoas chicoteiam o próprio corpo, amarram metais pontiagudos em si ou aplicam outros tipos de flagelos sobre seus corpos, na esperança de voltarem a um estado anterior de inocência, livres da culpa trazida pela prática do pecado.

Mas como eu disse anteriormente, todos os três representam comportamentos inadequados e que pouco contribuem para a extinção definitiva desse sentimento ou de seus efeitos. Se no primeiro a conseqüência do pecado será surpreendente e mortal, nos demais a culpa resultante do pecado sempre será um fardo a ser carregado diariamente.

Existe uma verdade bíblica: todos nós pecamos, e o pecado traz consigo morte espiritual, nos afastando de Deus (Romanos 3:23; Romanos 6:23; Isaías 59:2). Se nós pecamos, evidentemente estamos sujeitos a sermos culpados. Assim como um homicida fica em dívida com a sociedade até que sua pena de prisão seja totalmente cumprida, nós também ficamos “em dívida” com Deus a partir do momento em que pecamos.

Mas ao contrário do homicida, que necessariamente terá que passar pela cadeia, nós temos um meio de ficar livres do castigo eterno resultante do pecado. E a Bíblia nos diz que meio é esse:

“Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Isaías 53:5).

Veja que Jesus Cristo foi ferido em razão de nossos pecados. O auto-sacrifício de Jesus pagou o preço por nossos pecados. É como se existisse uma sentença de pena de morte decretada contra todos nós, para cobrir nossa culpa pelos pecados que nós todos praticamos. Aí vem um homem, reconhecidamente inocente, nos tira do corredor da morte, e entra em nosso lugar. Isso é uma das expressões mais maravilhosas do amor de Deus por nós. Conheço um sábio pastor que diz que amor de verdade não é aquele que aparece no final de filmes hollywoodianos românticos, mas sim, o retrato de um homem pregado numa cruz. E é esse amor de verdade que apaga aquilo que nos condena e que traz verdadeira paz para dentro de nós, como se não tivéssemos pecado.

Exatamente por causa desse sacrifício, é que nós, que recebemos a Cristo e reconhecemos o seu poder para nos perdoar, não precisamos carregar o peso da culpa. O tratamento de Deus conosco não é segundo a Lei, mas de acordo com a Graça. Por ela somos salvos, e graciosamente também somos perdoados (1 João 1:9), na medida em que nos arrependemos. O caminho do pecado em nós, a partir do momento em que tomamos consciência dele, é confessá-lo, deixando de praticá-lo, e ser perdoado. Não há espaço para sentimentos de culpa. A culpa só gera remorso, e remorso é diferente de arrependimento.

Enquanto o arrependimento é motivado por um desejo de mudança de postura, o remorso é motivado pelo medo. Quem sente remorso, sabe que cometeu ato injusto, e acredita que será submetido a punição severa. Por isso, na origem da auto-flagelação não está o arrependimento, mas sim o remorso, já que a pessoa impõe a si uma punição “suportável”, acreditando que assim poderá fugir de uma punição futura, a qual acredita ser mais difícil de suportar.

O grande problema do sentimento de culpa é que esse sentimento é sempre fruto de um entendimento errado. Das duas, uma: ou a pessoa sente apenas remorso pelo pecado cometido (não se arrependendo, e assim não desejando, de fato, abandonar o pecado) ou ela simplesmente ignora o poder do perdão divino, que é o único meio dela ser livre da culpa!

Nesse final de semana eu evangelizava uma pessoa, e ela me dizia que até achava interessante ir na igreja, mas ela não conseguia permanecer seguindo a Deus porque não conseguia deixar a mentira. Na ocasião eu disse a ela que mesmo após nascidos de novo nós pecamos, mas a diferença é que não pecamos mais deliberada, e sim acidentalmente. Além disso, entregamos nossas fraquezas a Deus, para que Ele tome o controle e nos ajude a vencer o pecado, pois o Senhor é quem transforma, através da sua maravilhosa graça, cada um dos problemas e pecados em nosso coração.

Entender nossas próprias fraquezas e nossa total incapacidade de anular sozinho a culpa resultante de nossos pecados é o primeiro passo para entender a grandiosidade do amor e do perdão que temos direito desde o momento em que Cristo deu Sua Vida por nós. É a cruz que nos livra da culpa! Precisamos entender que não podemos “compensar” o pecado que gera esses sentimentos de culpa, mas conhecendo a Palavra de Deus podemos ficar livre das acusações do diabo, sejam elas falsas ou verdeiras. Não precisamos nos penitenciar, achando que assim vamos aplacar o sentimento de culpa. Todo o sacrifício para “limpar nossos antecedentes” diante de Deus já foi feito, na cruz do Calvário, e a eficácia desse sacrifício é eterna.

No próximo artigo, falarei a respeito de um homem da Bíblia que soube se comportar diante da culpa resultante de seus pecados.

“Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados.” (Hebreus 10:14)

“E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas, Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo.” (Colossenses 2:13-15)