A Bíblia nos conta que tanto no ministério de Cristo como na sua continuação, através da pregação dos apóstolos, o cristianismo sempre bateu de frente com a questão do dinheiro. Um dos pilares do cristianismo está estabelecido sobre a idéia de que, ao contrário do que para as pessoas em geral, o dinheiro não deve ocupar qualquer nível de prioridade na vida dos homens que desejam seguir a Deus.
Em diversas passagens, são citados os efeitos que o dinheiro causa se não encarado da forma adequada, apenas como um simples recurso, e dada a ele apenas a importância que lhe é devida.
Por dinheiro, mais precisamente por 30 moedas de prata, Judas traiu a Jesus Cristo, entregando-o nas mãos daqueles que intentavam prendê-lo e crucificá-lo. (Mateus 26:12). Vendo a forma com que os homens ricos se portavam e a maneira com que eles tratavam as outras pessoas quando o assunto era dinheiro, Cristo proferiu uma frase que se tornou célebre:
“Porque é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” (Lucas 18:25)
Um outro homem – a quem muitos estudiosos entendiam ser uma espécie de feiticeiro - biblicamente conhecido como “Simão, o Mago”, teria crido na palavra pregada pelos apóstolos, sido batizado e andado com um dos apóstolos. Esse homem, ao ver o mover do Espírito Santo manifestado nas pessoas ao receberem as orações dos apóstolos, ofereceu dinheiro aos apóstolos para também ter o mesmo dom, no que foi duramente repreendido por Pedro (Atos dos Apóstolos 8:20), já que dons de Deus não são passíveis de serem comprados.
Estabelecendo o evangelho de Cristo, em carta a Timóteo, Paulo assim descrevia as conseqüências do amor ao dinheiro:
“Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.” (1 Timóteo 6:10)
Preste atenção na parte em negrito do texto acima: o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Uma expressão forte, mas que pode passar despercebida numa leitura rápida. Paulo aqui aponta que a origem de tudo aquilo de ruim que ocorre à humanidade está no amor ao dinheiro. Não precisa ir muito longe para provarmos que essa palavra se encaixa como uma luva para os nossos dias. Os tipos crimes mais cometidos em nosso país, como seqüestros, roubos, tráfico de drogas, assassinatos, receptação, acertos de contas, improbidade administrativa, corrupção, enfim, praticamente todos os crimes têm como causa direta ou indireta a obtenção ou acumulação de dinheiro, o aumento do lucro, a necessidade de ter mais do que é justo. Se os homens não amassem tanto o dinheiro, ou se preocupassem apenas em satisfazer suas necessidades vitais, a desigualdade não seria tão grande em nosso mundo. Não aconteceria a repetição de cenas como grandes investidores adquirindo bens e mais bens enquanto milhões de famílias na África permanecem à beira da miséria. Se não amassem tanto o dinheiro, evitariam gastos de valores absurdos em investimentos totalmente desnecessários, como despesas na indústria bélica e na pesquisa espacial, e transfeririam esses recursos para a agricultura e indústria de alimentos e sua distribuição às pessoas carentes. Mas esse amor ao dinheiro e a todo tipo de prazer que ele pode comprar, que faz com que os homens dos últimos dias sejam tão avarentos (2 Timóteo 3:2).
No mesmo versículo, Paulo faz ainda outra afirmação: a de que a cobiça ao dinheiro fez com que muitos se desviassem da fé (certamente fé em Cristo). Mais uma vez temos algo que é bem comum nos nossos dias. Todos nós conhecemos pessoas que diziam seguir a Cristo, oravam, freqüentavam uma igreja, mas que a partir do momento em que conseguiram uma certa “autonomia financeira” largaram tudo, passando a investir seu tempo em formas de se ganhar mais dinheiro ou multiplicar o que já têm. Uns arrumam vários empregos, sem reservarem um tempo para se relacionarem com Deus. Outros simplesmente se esquecem de Deus, e colocam o dinheiro como única motivação de tudo que fazem em sua vida.
Outros dois versículos da Bíblia nos ensinam mais a respeito da atração que o dinheiro pode exercer sobre nossas vidas:
“Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos.” (1 Timóteo 6:17)
“E o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera.” (Mateus 13:22)
No primeiro versículo, do livro de I Timóteo, Paulo tenta fazer com que os ricos sejam orientados a não colocar a sua esperança nas riquezas, que são efêmeras, incertas, temporárias. Da mesma forma que um homem pode ser rico e abastado, pode também perder tudo do dia para noite, assim como ocorreu com Jó. Só que, como sabemos, Jó perdeu tudo o que tinha em bens materiais, mas não perdeu a sua esperança, que não estava nas riquezas, mas no Deus que deu tudo o que ele tinha. É interessante notar que Jó, ao saber que perdeu todos os seus bens e seus próprios filhos, sequer pecou contra Deus. Pelo contrário, ele adorou a Deus e reconheceu que Deus só levou aquilo que Ele mesmo havia dado (Jó 1:20-22). O que certamente não aconteceria com a grande maioria dos homens ricos que conhecemos, que tem sua esperança naquilo que têm. E é essa esperança no dinheiro, a falsa tranqüilidade em se achar que se tem tudo e não se precisa de mais nada, que faz com que os homens sejam altivos e ignorem o plano de Deus para suas vidas.
No versículo de Mateus, o apóstolo conta que Cristo explica em parábola que a palavra de Deus semeada no coração dos ricos não gera frutos. O clamor das riquezas para estes é muito maior e mais atrativo do que o do evangelho. Aqueles que têm dinheiro suficiente para comprar tudo aquilo que seus olhos vêem, dificilmente têm a coragem de negar a importância disso tudo para eles e seguir um evangelho de fé, naquele que não se vê em carne e osso. Assim, a sedução das riquezas faz com que esses homens sejam atraídos para o caminho oposto ao da palavra de Deus.
Toda essa prioridade dada pelo homem às riquezas é exatamente oposta às recomendações da Bíblia. Jesus Cristo ensinava aos seus discípulos a viver da fé, não levando consigo nada em dinheiro ou alimentos (Lucas 9:3), o que para os nossos dias, onde os próprios ministros do evangelho estão acostumados com a abundância, é algo praticamente inimaginável. Em outra passagem, a Bíblia conta que o apóstolo Pedro entrava no tempo para orar e um certo homem, pobre e coxo, pedia esmolas a todos os que entravam no templo. Ora, já dissemos aqui que os apóstolos não andavam com dinheiro, como o próprio Cristo recomendava a eles. Se o coxo pedia esmolas e Pedro nada tinha, passaria ele então de largo? A Bíblia diz que não. Pedro afirmou que não tinha nada para lhe dar de esmolas, mas tinha algo melhor e isso lhe deu: a cura para o seu problema físico (Atos dos Apóstolos 3:6), o que fez com que ele ficasse mais satisfeito do que se recebesse qualquer tipo de esmola.
Não só nesta, mas em diversas outras partes da Bíblia, fica claro aquilo que é um dos pontos centrais daquilo que cremos: a nossa fé em Cristo e na verdade de seu evangelho, que deve ser a base de todas as nossas esperanças. O amor ao dinheiro, um clamor tão atrativo em toda a história, apesar de ser a principal, é apenas mais uma das armadilhas existentes no mundo para nos tirar nosso foco da esperança da glória de Deus, que é Cristo em nós (Romanos 5:2; Colossenses 1:27).
“Eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível.” (1 Coríntios 9:25b)
No próximo artigo falaremos de outro artifício desconhecido e inimaginável no tempo dos apóstolos, mas que hoje tem contribuído, sem dúvida nenhuma, para a multiplicação da iniqüidade, da corrupção, com a expansão de valores invertidos e promovendo a falência moral de nossa sociedade. E que certamente também seria combatido pelos apóstolos com semelhante veemência com que combateram o amor ao dinheiro.
Nota: A expressão “pedra de tropeço” é recorrente na Bíblia (Isaías 8:14; Romanos 9:32; 1 Pedro 2:7), apontando para Jesus Cristo, que foi uma pedra de tropeço aos judeus, que n’Ele não creram e assim não reconheceram o cumprimento da profecia bíblica que apontava que aquele era o Messias. Não há um significado preciso para este termo tomado de forma isolada, mas muitos entendem se tratar de um ponto, detalhe ou elemento que, se não tratado com a sua devida importância, pode levar aquele que o esquece á ruína.
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