Acompanhamos nos últimos dias um dos eventos mais importantes do esporte: o campeonato mundial de atletismo. O atletismo compreende os esportes praticados em pistas construídas em estádios e corridas em ruas. E é nesse conjunto de modalidades onde os atletas mais precisam vencer os seus limites. Afinal, não é qualquer um que consegue correr os mais de 42 quilômetros de uma maratona, ou ainda, correr 50 quilômetros mantendo sempre um dos pés no chão, como na marcha atlética.
E todo esporte individual tem uma coisa em comum: apenas um atleta chega à medalha de ouro, a condecoração que simboliza o reconhecimento ao atleta que conseguiu ser melhor que os demais. E nisso há pouca margem para o acaso. Aquele que vence sempre traz consigo altas quantidades de treinamento, sofrimento, pressões, cobranças e até derrotas anteriores. Até a Bíblia fala um pouco do que é o sofrimento de um atleta.
“Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.” (1 Coríntios 9:24-27)
No Mundial desse ano, as histórias de dois atletas em especial ganharam maior repercussão. Dois exemplos de atletas vencedores, reconhecidos. Entraram na pista para competir com o status de serem grandes favoritos, detendo cada um os atuais recordes mundiais em suas respectivas modalidades e haviam alcançado a medalha de ouro olímpico com todos os méritos o ano passado. Até seus próprios adversários entraram para competir sabendo que vencê-los só seria possível se houvesse um milagre ou uma tragédia, pois eles realmente demonstraram nas competições anteriores que realmente estão num nível técnico bem superior do que os demais.
Mas os dois atletas, de currículos tão semelhantes, tiveram desempenhos completamente diferentes nessa competição. O primeiro, velocista, não só venceu, como superou os seus próprios limites. Quando muita gente pensava que o ser humano não poderia ser mais rápido do que ele já tinha sido, ele foi lá, venceu a si mesmo, e quebrou novamente o recorde mundial que já era dele. E fez isso em dobro, pois obteve desempenho espetacular tanto na prova dos 100 quanto na dos 200 metros. Mas a segunda, a saltadora, passou vergonha. Mesmo tendo várias oportunidades, não conseguiu dar nenhum salto válido, que lhe permitisse sequer competir com as demais, e amargou o último lugar justamente no dia da disputa pela medalha. Justamente ela, que já havia saltado várias vezes em alturas que suas adversárias jamais saltaram. Ela poderia ser a melhor, ter os melhores recursos, o melhor treinador, mas não venceu naquele dia. A ela só restou sair cabisbaixa do estádio e limpar as lágrimas.
O esporte aqui nos traz lições. Lições que podem perfeitamente ser aplicadas na vida cristã, o que há quase 2 mil anos atrás já era percebido por Paulo, como mostrado no versículo acima transcrito.
Longe dos estádios, holofotes e das câmeras de TV, mas na Bíblia e até dentro das igrejas em que convivemos, vemos histórias de pessoas que se esforçam, começam alguma obra ou um relacionamento com Deus e vão até o final de suas vidas sem vacilar. Mas vemos também pessoas que também se esforçam, buscam a presença de Deus, mas por um motivo ou outro, chegam em um momento em que elas param, “perdem o embalo” do primeiro amor e caem. E muitas delas não se levantam mais.
Vejamos um exemplo bíblico, o do jovem rico:
“E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.” (Mateus 19:16-22)
Ao olharmos a vida daquele jovem rico que se aproximou de Jesus Cristo, vemos que ele não era qualquer um. Era um judeu sério, que acreditava que Jesus Cristo era o Mestre o qual ele devia seguir e que poderia dar a ele o caminho da vida eterna. Aquele jovem ainda tinha um exemplo de vida, pois guardava cada um dos mandamentos de Deus. Era um típico judeu íntegro, que respeitava toda a lei de Deus. Tinha tudo para ser também um exemplo, um padrão de cristão a ser seguido. Mas Ele sabia que lhe faltava algo. E esse algo que foi exigido dele, ele não pôde dar. O que talvez parecia mais difícil, que é levar uma vida em integridade e em separação do mundo, ele fez. Mas na última prova, justamente na última exigência que faltava a ele cumprir para alcançar a vida eterna, ele perdeu a oportunidade de demonstrar a Jesus que aquilo que realmente importava para ele era a vida eterna, e não os seus bens que tinha na terra. Assim, foi um servo fiel por muito tempo, até ser reprovado no dia que foi testado.
O exemplo oposto é o de Paulo. Paulo sabia do chamado que ele tinha de pregar o evangelho. Em várias passagens da Bíblia, ele demonstra esse compromisso e como ele estava empenhado em trilhar os propósitos traçados para sua vida por Deus. Ele era tão comprometido, que dizia que não poderia fazer outra coisa senão pregar o evangelho, sendo que para ele, pregar o evangelho era sua obrigação (1 Coríntios 9:16). Mas Paulo diz também que o seu trabalho não se resumia a só pregar a palavra, mas levar uma vida de sacrifício em prol desse evangelho. Afinal, não haveria eficácia nenhuma no que ele dizia se ele desse recomendações tão fortes e não tivesse uma vida que expressasse sua vocação. Por isso mesmo, como um atleta que luta por uma medalha olímpica, Paulo subjugava as seu próprio corpo (1 Coríntios 9:27), negava suas vontades (Gálatas 2:20), e oferecia sua própria vida como sacrifício à Deus (Romanos 12:1).
Exatamente pelo sacrifício que Paulo fez ser sua própria vida, uma constante negação da sua própria alma, foi que permitiu com que ele terminasse a carreira da sua própria vida sem ter do que se envergonhar diante de Deus.
Se no esporte não são todos que vencem, andando com Deus não será diferente. No nosso meio, encontraremos aqueles que podem até lutar por um tempo, mas lá na frente, por não terem sido levados pela verdadeira motivação – amor a Cristo – acabaram ficando pelo caminho (1 Coríntios 9:17). Mas haverá aqueles que permanecerão, que não olharão para trás. E como Paulo, terão do que se orgulhar mesmo quando as oportunidades de fazer o bem já tiverem passado, por que terão a certeza que aproveitaram aquilo que Deus colocou em suas mãos. Somente estes serão os verdadeiros vencedores, e terão uma coroa que não se consumirá, como reconhecimento por sua perseverança e amor (Apocalipse 2:17).
Se a vida cristã também é difícil e exige sacrifícios como o esporte, aqui ao menos há uma vantagem. Você não precisa derrotar ou ser melhor que o outro. Precisa sim aprender a negar a sua vontade, viver em prol das coisas de Deus, e não do mundo. Ao contrário do atletismo, com Deus temos a certeza de que o sacrifício de nossas próprias vidas não será em vão. E independente daquilo que os nossos adversários fizerem, o prêmio reservado para os vencedores estará esperando todos aqueles que atenderem fielmente o chamado de Deus para suas vidas.
“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” (2 Timóteo 4:7)
“Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Filipenses 3:14)
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