domingo, 29 de novembro de 2009

O evangelho da vida através da morte

Não existe geração de vida sem que haja morte. Essa foi uma das mais importantes lições de Cristo, demonstrada através de sua morte na cruz. Nunca existiu e tampouco chegará a existir uma demonstração maior de amor do que o sacrifício de Jesus Cristo (João 15:13).

Em sua vida, sabemos que Jesus escolheu 12 homens para multiplicar o evangelho na terra. Esses homens não eram discípulos de Cristo somente porque andavam com Ele por todos os lugares que passava, mas porque foram homens nos quais Cristo olhou e viu disposição semelhante à que Ele tinha: a de entregar suas próprias vidas pela salvação de outras pessoas. E por estarem dispostos a não amarem suas vidas, se entregaram em favor da expansão do reino. Nenhum dos apóstolos morreu em camas quentes, de velhice ou morte natural, ao lado dos seus parentes. Morreram sim das formas mais tristes possíveis. Presos, exilados, crucificados em posições humilhantes. Esse foi o destino que recebeu os primeiros discípulos de Cristo.

Se a história da igreja primitiva foi banhada de sangue, no passar dos séculos a situação não mudou muito. Em Roma, cristãos eram mortos de formas bizarras, devorados por animais, queimados vivos. Na Idade Média, a religião se institucionalizou, perverteu-se, e voltou-se justamente contra os verdadeiros servos de Deus. E ainda nos dias de hoje, em dezenas de países do grupo da “igreja perseguida”, continua sendo derramado sangue de homens que amam a obra de Deus e que, como os apóstolos, se dispõem a dar seus próprios corpos pela salvação de outras pessoas.

Estes homens, que deram um verdadeiro testemunho de entrega, através de suas próprias vidas, são lembrados em Apocalipse:

“E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram.” (Apocalipse 6:9-11)

Repare que estes homens que morreram em favor do evangelho estão em posição de honra. Adquiriram o direito de repousarem tranquilos após a morte e receberem vestes brancas.

Mas a pergunta que surge é: e nós? Será que podemos bater no peito e declarar, a nós mesmos, que somos verdadeiros discípulos de Cristo? Aqui se requer uma análise mais detalhada.

Um primeiro ponto que merece ser destacado é o de que todo aquele que deseja ser discípulo de Cristo, tem que estar disposto ao sacrifício, diário e contínuo de suas próprias vontades. Veja o que o próprio Cristo disse:

“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me.” (Mateus 16:24)

Tomar a cruz é carregar um peso de algo que pode ser maior do que a sua própria vida. Quando Cristo literalmente carregou sua cruz ao Monte Calvário, Ele nada mais estava carregando o madeiro no qual Ele próprio seria pregado e morto. Qualquer um que quiser levar uma vida “carregando sua cruz”, deve saber que está levando uma vida que o levará para a morte física, na medida em que deverá deixar os projetos, desejos, sonhos da vida para trás. Isso não quer dizer que quem segue a Cristo não pode ter nenhum bem material e levar uma vida miserável, mas sim, que todo aquele que deseja ser discípulo de Cristo não pode ter o seu coração nestas coisas. Outrossim, tem que estar disposto a renunciar tudo o que tem se isso for necessário para a salvação de outras pessoas.

Paulo ensinou a Tito que o verdadeiro discípulo deveria renunciar à impiedade e a toda a concupiscência mundana (Tito 2:12). Jesus Cristo, antes dele, já havia sido ainda mais enfático: ninguém que não estiver disposto a renunciar tudo que tem não poderia ser discípulo d’Ele (Lucas 14:33).

Além do sacrifício, a Bíblia nos ensina também a lição do amor ao próximo. Veja o que Cristo dizia:

“E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. E o escriba lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele; E que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios.” (Marcos 12:29-33)

Repare que toda a lei do Velho Testamento pôde ser reduzida a apenas dois mandamentos: amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo. Quem leva uma vida de sacrifício na terra, negando aquilo que é do mundo, está demonstrando que ama a Deus. Mas demonstrar apenas o amor a Deus não é suficiente.

Cristo não ensinou o sacrifício puro e simples, mas um sacrifício motivado. Não se trata de fazer penitências ou violentar a si mesmo, mas de um sacrifício em benefício de outras pessoas. Quando amamos ao próximo como a nós mesmos, não nos ficamos tranqüilos com a idéia que nós estamos salvos e outras pessoas não. Se você ama duas pessoas de forma igual, você quer que ambas tenham benefícios semelhantes. Os que se negam a trabalhar pela salvação de outros, não é discípulo, porque ser discípulo é entender que a salvação da alma do seu próximo vale tanto, que se for preciso dar a sua própria vida por ela, você dará.

Entretanto, pouca gente está disposta a amar o evangelho de Cristo e a vida de outras pessoas a ponto de oferecer a sua própria vida para isso. Existem muitos “cristãos por conveniência”, que não demonstram uma fé verdadeira, como a de Paulo, que mesmo nunca tendo visto a Cristo, creu n’Ele e não se intimidava diante da morte (Filipenses 1:21). E essa é uma marca de uma fé genuína: ela resiste à morte.

Cristo não nos livrou do peso da lei simplesmente por ser bonzinhos conosco ou por amar mais a nós do que aos judeus, mas para nos dar uma tarefa não menos fácil do que seguir a lei: o encargo de amar a vida dos outros. Só experimenta uma vida cristã real e íntima aquele que entende que a maior prioridade de Deus não é abençoá-lo, mas usar a sua vida para abençoar outras pessoas.

Na Alemanha nazista, muitos judeus não estavam dispostos a morrer nos campos de concentração ou nas câmaras de gás de Hitler. Assim, muitos preferiram se esconder ou pior, se vestiam como nazistas para escapar da perseguição e restarem vivos após a guerra. Negavam de onde vieram e o que acreditavam para continuarem vivos. E assim faz hoje a maioria dos cristãos. Querem continuar sendo cristãos, mas não querem pagar o preço que o verdadeiro discípulo paga, de sacrifício contínuo e de amar a vida daquele que às vezes sequer conhece.

Deixar de pregar o evangelho, de levar uma vida de sacrifício e de amar o próximo, é uma negligência de graves conseqüências. Milhões de pessoas no mundo deixarão de ser salvas porque outros milhões de cristãos terão se prendido numa “vida cristã” egoísta, que não terá ido além da mera busca de atendimento de mesquinhas necessidades pessoais. A Bíblia diz que aqueles que não serão salvos, não o serão porque não receberam o amor da verdade para se salvarem (2 Tessalonicenses 2:10). Muitos não são salvos, porque simplesmente jamais puderam ver o que é esse amor, porque os cristãos que ele conheceu em vida não lhe mostraram isso. O amor de Deus só é expresso aos homens através de seus servos, e o número de salvos deixará de crescer na medida em que os filhos de Deus se esquecerem do seu principal papel: levar o amor de Deus para aqueles que não o conhecem.

Não é fácil viver uma vida de renúncias. Negar a si mesmo não é tarefa simples num mundo cheio de facilidades e ofertas sedutoras como o nosso. Mas asseguro que muito mais difícil e dolorosa do que qualquer transitória vida de sacrifício, será chegar na eternidade e não ter frutos dos quais se orgulhar, nem vestes brancas para receber.

“O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.” (Apocalipse 3:5)

Por fim, uma última pergunta: você ama mesmo a Cristo? Antes de responder a essa pergunta e mesmo antes de entoar cânticos prontos dizendo que ama a Deus, entenda o que isso significa, e que se isso realmente for verdade em seu coração, você certamente será cobrado e testado pelo que disse. O amor não se manifesta sendo falado, mas em ações práticas e eficazes. E a única forma de demonstrar o amor a Deus é através da disposição em seguir um evangelho que gera vida à custa da morte daquele que ama às verdades da palavra que segue..

“Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á.” (Mateus 10:39)

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