Nós não merecemos o perdão de Deus. Assim como a salvação, o perdão por nossos pecados é algo que recebemos pela graça. Graça essa advinda do sacrifício de alguém que deu seu próprio sangue inocente para que nós fossemos livres de toda culpa a partir do momento em que confessamos nossos pecados (Colossenses 2:14).
No Direito, a comprovação da culpa de um criminoso só existe após a acusação. Diante das leis humanas, todos são inocentes, até o momento em que são acusadas e são encontradas provas de que essa acusação é verdadeira, e aí sim a pessoa é condenada. Nem todo que é processado é culpado, alguns são absolvidos, e outros condenados. No mundo espiritual, as coisas acontecem de forma semelhante: há alguém que, quer estejamos certos ou errados, ele sempre nos acusa, que é o chamado de “acusador de nossos irmãos” e que, segundo a Bíblia, dia e noite nos acusa diante de Deus (Apocalipse 12:10)
Assim, o perdão é um favor para nós concedido, ainda que imerecidamente. Por isso sempre que você olhar para si mesmo pensando que pode se justificar diante de Deus por seus erros, você estará errado! Eu conheço uma pessoa que diz que sempre que ouve uma pessoa se justificar muito, ela pensa que ele certamente está mentindo, porque a verdade não precisa ser justificada, apenas apresentada. E isso pode não ser uma regra, mas se aplica em muitos casos.
Muitos de nós estabelecemos “hierarquia de pecados”. Achamos que Deus facilmente nos perdoa de pecados leves, mas que Ele “dificulta” o perdão no caso de pecados mais graves. É claro que isso não existe! O perdão de Deus abrange todo e qualquer pecado, por mais grave que seja, desde que aquele que o confesse demonstre arrependimento, confessando e deixando de praticar aquele pecado (1 Coríntios 6:9-11). Se existe diferença, essa reside nas conseqüências do pecado! Diante de Deus, no dia do juízo, e agora, diante dos homens, é evidente que nós temos responsabilidades e por isso, temos que prestar contas de nossos atos e colher frutos advindos de nossos erros. As conseqüências variam, mas o perdão de Deus é o mesmo e abrange qualquer pecado cometido contra nossos irmãos, ainda que estes se neguem a nos perdoar.
Um personagem da Bíblia que já entendia que poderia ser perdoado, mesmo antes da morte de Cristo, foi Davi. Davi foi um homem que cometeu inúmeros pecados. Alguns deles bastante reprováveis. Cometeu adultério e inclusive provocou a morte de outra pessoa. Enfim, cometeu pecados que maioria de nós jamais cometerá. Mas além de ser alguém que pecava, ele era um homem que sabia se arrepender de seus pecados e que chegou a ser chamado de “homem segundo o coração de Deus”.
Davi cometeu os piores pecados, mas ainda assim foi chamado homem segundo o coração de Deus. Em muitas vezes que o diabo culpou Davi diante de Deus, as acusações não eram sem fundamento. Mas Davi sabia reconhecer seus próprios erros e a clamar pelo perdão de Deus.
“Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. (Selá.) Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado. (Selá.) (Salmo 32:4-5)
Naquele tempo, Cristo ainda não havia morrido pelos pecados dos homens. Assim, o perdão não era algo tão fácil como nos nossos dias. Mesmo assim, Davi clamava pela misericórdia de um Deus que poderia apagar as suas transgressões (Isaías 43:25; Ezequiel 18:21-22)
Davi pecou, mas encontrou liberdade dos seus pecados e sentimentos de culpa diante de Deus. E é diante de Deus, e não do diabo, que somos livres de nossa culpa.
Mas a primeira coisa que pode vir à nossa mente é o fato de que com esse perdão que Deus nos dá nós podemos pecar de forma desmedida que ainda assim seremos perdoados. A princípio esse pensamento pode parecer verdadeiro, mas esse jamais deve ser o pensamento do crente, nascido de novo. Aquele que nasceu de novo, deixa o pecado. Essa é uma demonstração clara na vida daquele que serve a Cristo. Se a pessoa tem o pecado como uma prática sistemática em sua vida, é sinal de que a sua consciência está cauterizada, como se ainda estivesse no mundo. Seria como dizer a Cristo que o aceita como Senhor de sua vida, mas demonstrar com seus próprios atos que não guarda as suas palavras. Uma das maiores demonstrações de amor à Deus está na obediência à seus mandamentos, e aquele que ama mais o pecado do que as ordenanças de Deus, mostra que ainda não ama a Deus da maneira um filho deve amar um pai (João 14:21). Por mais que pareça que o perdão de Deus não exija mudanças de nós, é necessário entender que ter o pecado como um costume e dizer que ama a Deus é por demais contraditório! Não dá para dizer que é nascido de novo sem deixar para trás as obras do velho homem, pois aquele que é nascido de Deus anda em novidade de vida (Romanos 6:4)
Prova disso era a maneira que Cristo lidava com os pecadores que Ele curava: Ele não os condenava por seu passado, mas dizia a eles para não pecarem mais (João 5:14; João 8:11). E a questão do pecado reiterado é séria. Quem peca demais ou tem o pecado como hábito, dá legalidade para demônios agirem contra sua vida. Quem não está em comunhão com Deus, vivendo em pecado, tem em seu coração um espaço aberto para demônios agirem de forma cada vez mais “legalizada” (Lucas 11:26).
Mesmo sabendo que o diabo nos acusa até por pecados pelos quais já arrependemos e confessamos, há situações em que o sentimento de culpa que se passa em nosso interior tem razão. São situações em que estamos
Devemos também pedir a Deus que nos mostre quais são os pecados que cometemos e que precisam ser confessados, pedindo perdão de forma sincera e ao mesmo tempo específica. Repare abaixo que Davi clamou a Deus para que perdoasse até mesmo os pecados que ele não se lembrava. Isso é bastante comum no caso de novos convertidos, que evidentemente não se lembrarão de todos os pecados que cometerem. Aqui o mais importante não é ter uma excelente memória para lembrar de todos os pecados, mas sim, desejar, de coração sincero, abandonar a prática de cada um dos pecados que cometeu até conhecer a Cristo.
“Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos.” (Salmos 19:12)
É importante termos em nós a certeza de que Deus nos perdoou dos pecados que confessamos. Sempre que sentimentos de culpa vierem sobre nossa mente e forem relativos a pecados que já confessamos, devemos rejeitar esses sentimentos de culpa como sendo falsos! Ora, se Deus mesmo apagou nossas transgressões com o seu perdão, não somos nós que precisamos ficar lembrando daquilo que já foi deixado.
Sabemos que Deus não mente. Ao contrário, Ele é fiel ao que diz em Sua Palavra. Se ele diz que a Sua misericórdia se renova diariamente e que Ele perdoa os pecados que são confessados, temos o direito de tomar posse desse perdão para nós. E mais do que isso: temos autoridade dada por Deus para repreender aquele que falsamente nos acusa, tentando nos impedir de ter paz e alegria que só são completas quando estamos livres da escravidão do pecado e em plena comunhão com Deus.
“Misericordioso e piedoso é o SENHOR; longânimo e grande em benignidade. Não reprovará perpetuamente, nem para sempre reterá a sua ira. Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos recompensou segundo as nossas iniqüidades. Pois assim como o céu está elevado acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem. Assim como está longe o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões.” (Salmos 103:8)
“Vinde então, e argüi-me, diz o SENHOR: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã.” (Isaías 1:18)
“Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 João 2:1)