Gênesis e Apocalipse além de abrir e encerrar a Bíblia são sem dúvida os dois livros mais polêmicos de todo o Livro Sagrado. São livros que se analisados isoladamente, fora do contexto em que foram escritos, são bastante difíceis de serem entendidos, mas guardam grande relação entre si, de forma que, assim como um livro não está completo sem uma introdução e uma conclusão, a própria Bíblia estaria incompleta sem um deles.
O Livro de Gênesis, assim como os 4 livros seguintes (que formam juntos o Pentateuco), foi escrito por Moisés. O livro inaugural da Bíblia narra a Criação e os acontecimentos seguintes, passando pelos primeiros patriarcas, até a composição de um povo propriamente dito de Deus, que a partir do Livro de Êxodo, sob a liderança de Moisés, se constituiu no mundo. É claro que Moisés não presenciou todos os fatos escritos no livro, até porque tudo que ali é relatado se passa antes de seu nascimento. Por isso, acredita-se que as informações ali constantes tenham sido passadas a ele por tradição oral, desde Adão, através de 5 longevos homens: Matusalém, Sem, Isaque, Levi, e Anrão.
O livro da Revelação, ou para nós, Apocalipse, é de grande valia para nós cristãos de hoje, pois possui uma pré-visão dos últimos acontecimentos antes, durante e após o retorno de Jesus Cristo, e que já teriam inclusive se iniciado. É um livro narrativo, pois foi escrito por João, exilado na ilha de Patmos, a partir da visão que a ele foi dada por Deus (Apocalipse 1:19), sobre as coisas que deveriam acontecer até o fim do mundo como hoje nós o conhecemos e o estabelecimento do Reino Eterno de Cristo na nova Jerusalém (Apocalipse 21:2).
Assim, aparentemente tais livros abordariam assuntos completamente diferentes, e não teriam qualquer ligação lógica um com o outro. Mas não é o caso. Na verdade, o segundo é uma conseqüência do primeiro.
Mesmo há milhares anos de Sua Vinda à Terra, Jesus Cristo é “apresentado” no livro de Gênesis. Em Gênesis 3:15, após o homem ter pecado, Deus já declara que virá um, da semente da mulher, que ferirá a cabeça do Diabo e justificará os homens. Esse que era apenas apresentado com Semente da Mulher, surge nos evangelhos como Filho de Deus, humilhado e morto numa cruz pelos pecados humanos, para aparecer de uma forma bem diferente no livro de Apocalipse:
“E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso. E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores.” (Apocalipse 19:15-16)
Se em Gênesis, a serpente submete o homem à desobediência à Deus, pelo pecado, em Apocalipse, aparece Aquele que deu Sua Vida em favor dos homens para que pudesse reinar e ser Senhor sobre todos, subjugando aquele que semeou o pecado na Terra.
Há ainda outras relações também interessantes entre os dois livros. Em Gênesis, são criados os céus e a terra (Gênesis 1:1), mas em Apocalipse estes são substituídos por outros (Apocalipse 21:1), fruto de novo processo de criação de Deus, agora não de uma terra para todos, mas daquela destinada somente apenas aos seus escolhidos.
Se em Gênesis há a primeira alusão ao casamento (Gênesis 2:22), em Apocalipse é relatado o casamento mais importante de toda a história, aquele onde será constituído o laço que unirá o Cordeiro de Deus e a sua noiva, a Igreja de Cristo na Terra (Apocalipse 19:7).
Aparece também em Gênesis pela primeira vez uma das mais belas criações de Deus: os mares (Gênesis 1:10). Mares que deixarão de existir, não aparecendo na cidade preparada por Deus aos seus justos (Apocalipse 21:1)
Em Gênesis, Deus fez dois luminares à Terra, sol e a lua (Gênesis 1:16), que serão desnecessários na nova Jerusalém (Apocalipse 21:23), pois ali a luz da glória de Deus será a única necessária.
A morte, que aparece em Gênesis a partir do momento em que surge o pecado (Gênesis 2:17), será também eliminada com a vida eterna que teremos em Cristo quando com Ele estivermos reinando (Apocalipse 21:4).
Em Gênesis aparece pela primeira vez também o Diabo, através da serpente (Gênesis 3:2-5), que seduz o homem a experimentar do conhecimento do mal e do pecado, no que vence-o e decreta a todo humano não-justificado o destino de viver sempre preso à prática do pecado. Esse Diabo, que prendeu o homem ao pecado, é finalmente preso e lançado vivo no lago de fogo, para nunca mais enganar os homens nem seduzi-los à corrupção (Apocalipse 19:20).
Se esse homem, seduzido pela serpente em Gênesis, comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, e foi proibido de comer da árvore da vida (Gênesis 3:22), em Apocalipse, a sua comunhão com Deus foi totalmente restaurada e a ele foi devolvido o direito de comer da árvore da vida para todo o sempre (Apocalipse 22:2).
Mais do que essas relações teológicas ora citadas, os dois livros tratam ainda de coisas incompreensíveis à mente humana e até certo ponto difíceis de entender.
O livro de Gênesis é visto por muitos não-cristãos de forma folclórica, simbólica. Os que defendem a Teoria da Evolução (teoria que afirma que o ser humano não foi criado, mas evoluído de formas pré-existentes de vida, como dos macacos) não se cansam de criticar o livro de Gênesis e os fatos ali descritos. Para eles, e até para alguns cristãos de pouca fé, os fatos descritos em Gênesis não são literais, justamente por não serem plausivamente concebíveis numa realidade como a nossa de hoje. Assim, defendem que não existiu um jardim com um homem e com uma mulher, que deram origem a toda humanidade, nem tampouco uma arca onde apenas uma família humana e casais de cada espécie animal foram salvos de uma chuva que durou 40 dias e dizimou a vida na Terra (Gênesis 7:4). Também não houve a fracassada construção de uma torre “arranha-céu”, onde a língua humana, até então única, foi “confundida” do dia para a noite (Gênesis 11:9). Também não caiu fogo e enxofre sobre toda uma cidade (Gênesis 19:24) e tampouco uma mulher foi transformada em estátua de sal por tão somente ter desobedecido a ordem de não olhar pra trás (Gênesis 19:26).
Da mesma forma há aqueles que reduzem o livro de Apocalipse também a uma descrição metafórica de algo não realizável na prática. Mesmo frente a tantas profecias se cumprindo, há ramos do cristianismo que afirmam que os fatos ali descritos se consumaram na perseguição do Império Romano à igreja primitiva, desconhecendo que Apocalipse mostra o estabelecimento do Reino de Deus depois dos tempos de perseguição, o que não aconteceu à época. Outros ainda defendem que o que está escrito em Apocalipse é apenas simbólico, não aplicável nem aos romanos, e nem a nós. Ora, se assim fosse, a própria Bíblia estaria incompleta, e sem sentido também estariam as profecias reveladas por Deus a Daniel (Daniel 12:4), e aquelas anunciadas por Cristo nos evangelhos, onde Ele mesmo fala das perseguições que a Terra passará e da promessa, cumprida em Apocalipse, de que Ele voltaria para buscar o Seu povo e com ele reinar (Mateus 24:30).
Assim, pela conexão que guardam entre si e pelos fatos ali descritos, acreditar em Gênesis e em Apocalipse é mais do que aceitar um preceito doutrinário ou entender uma história bíblica. É sim, uma prova de fé. Fé na verdade de que existe um Deus verdadeiro, que criou o homem a partir do pó da terra e a ele deu vida, constituindo-o na Terra. Fé também de que esse mesmo Deus, que mandou seu Filho à Terra para justificar os homens com Sua própria Vida, enviá-lo-á novamente para julgar o mundo e salvar todo aquele que n’Ele crê.
“Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a João seu servo; O qual testificou da palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto. Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.” (Apocalipse 1:1-3)
“Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; Alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.” (1 Pedro 1:7-9)
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