domingo, 9 de novembro de 2008

Pedindo e recebendo de Deus

Um dos maiores problemas da igreja de nosso tempo é que ela tem perdido o foco daquilo que é o mais importante. Num tempo onde o ensino da sã doutrina da palavra de Deus deixou de ser ensinada com excelência em muitas igrejas, criou-se um grande número de pessoas que estão na igreja, mas seus anseios e projetos são os mesmos das pessoas comuns não-cristãs. O cristão hoje mudou de cara, e se misturou na sociedade, a ponto de ser difícil saber quem serve e quem não serve a Deus no meio da multidão.

Com tais mudanças, veio também um hábito mundano para dentro da igreja. A maioria dos cristãos tem fugido do compromisso com a palavra e com a igreja e tem tão somente procurado aproveitar somente das situações em benefício próprio.

Fruto ou causa disso é a tão conhecida “Teologia da Prosperidade”, que tem feito muitos templos ficarem lotados, com orações prometem ser “poderosas”, campanhas milagrosas, para trazer uma vida regalada para aqueles que são herdeiros de Cristo. Criou-se uma mentalidade errônea, baseada em distorcidas interpretações bíblicas, de que aqueles que servem a Deus tem o direito de serem abastados. Assim, basta a fé e a perseverança em campanhas que o milagre financeiro chegará na vida de todos os que crêem. Estes dizem que se o seu milagre não chegou é porque você ainda não teve fé suficiente.

Ao mesmo tempo, na proporção em que aumenta o número daqueles que vêm requerer de Deus sua fatia no bolo da prosperidade financeira, diminui o número daqueles que buscam, a exemplo dos apóstolos, aquilo que de fato é incorruptível (1 Coríntios 9:25).

Nas igrejas de hoje, uma das poucas pregações que atrai as pessoas aos cultos é a promessa de um Deus que multiplica o dinheiro dos seus filhos. Poucas das grandes igrejas conseguem crescer sem “apelar” ao discurso da prosperidade, como se fizesse parte do plano de Deus para nossas vidas nos tornar ricos.

Em paralelo à busca por bens, há um outro tipo de cristão, não menos oportunista: aquele que só vai atrás de Deus, ou só lembra que Ele existe, quando estão passando por algum tipo de problema.

Lembro-me de quando eu liderava uma reunião semanal de oração e ali, mesmo num grupo de 20 a 25 pessoas, era possível identificar dois grupos de pessoas. Haviam aqueles que tinham um compromisso com aquela reunião e com Deus, e que semanalmente estavam presentes ali. Mas havia um outro grupo, não menor, de pessoas que não tinham o mesmo compromisso semanal, mas sempre que compareciam à reunião vinham com um problema diferente a contar e pedindo oração.

É claro que esse segundo grupo de pessoas tinha fé, pois se não tivessem, nem ali compareceriam. Mas na fé deles havia um problema: “limitavam” Deus à sua necessidade. Só acreditavam no Deus como um Pai zeloso, que sempre está de plantão para abençoar. Mas não tinham um compromisso efetivo com esse Deus no qual criam. Não se preocupavam em ter uma convivência com Deus, tendo o louvor e o estudo da palavra como hábito em suas vidas, nem tampouco em buscar os frutos do Espírito para suas vidas. Por isso, por não ter obra alguma diante de Deus, a fé destes, ainda que seja “exercida” no momento da adversidade, é morta (Tiago 2:26).

A palavra de Deus traz também um exemplo semelhante desse tipo de comportamento nos tempos de Cristo:

“E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passou pelo meio de Samaria e da Galiléia; E, entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe; E levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós. E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, indo eles, ficaram limpos. E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz; E caiu aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano. E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou.” (Lucas 17:11-19)

Nessa passagem, 10 homens apareceram diante de Jesus, clamando por cura. Cristo então ordenou que eles fizessem um exercício de fé: fossem ao sacerdote, que então seriam curados. Seguindo tal instrução, todos então foram curados. Mas apenas um voltou para glorificar a Deus. Apenas um soube reconhecer que foi curado por Cristo e lembrando d’Ele, voltou para agradecer.

É claro que aqueles 10 homens ouviram falar das curas que Cristo operava naqueles tempo. Todos eles conheciam a fama de um Homem que fazia cegos enxergarem, coxos andarem e surdos ouvirem. Por isso, sabiam que se chegassem a Ele seriam curados. Assim também, muitas pessoas ficam sabendo de cultos e campanhas. As igrejas de hoje fazem pesados trabalhos de divulgação, e um sem número de pessoas carregadas de problemas e pedidos chegam nas igrejas para serem abençoados, assim como aqueles 10 homens se aproximaram de Cristo. Mas a dura verdade é que o final da história também se repete. A maioria dessas pessoas não está interessada em se estabelecer numa igreja e gerar frutos a Deus, mas sim, tem o único e exclusivo interesse de receber a benção que almeja. Como a maioria deles não recebe, e nem tem o devido esclarecimento de como a obra de Deus funciona, cria-se uma multidão de pessoas frustradas, que não conhecem a Deus, e que saem por aí falando mal das igrejas, proferindo as piores acusações contra pastores e obreiros, como se estes tivessem mentido a respeito de Deus, e não eles é que chegaram na igreja com falsas expectativas.

A própria Bíblia diz que Cristo não tem parte com aqueles que só vivem pedindo. Além de afirmar que a fé sem obras é morta, a Bíblia ainda diz que “nem todo aquele que diz Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus”, mas somente aquele que faz a vontade de Deus (Mateus 7:21). E a vontade maior de Deus não é que a sua vida seja sempre repleta de bênçãos ou que você não tenha problemas. Sua vontade é que o maior número de pessoas sejam salvas (João 6:39). Há pregadores que insistem no engano de que Deus quer filhos que saibam pedir, que venham diante de Deus “requerer o que é seu”. Não há parte alguma no Novo Testamento que diz isso. Muito pelo contrario, a garantia que Deus deu aos que desejam viver em Cristo passa bem longe de uma vida regalada (2 Timóteo 3:12). Muitos se esquecem de que aquele que quiser seguir a Deus deve tomar sua cruz, e não exigir um quinhão, como se Deus estivesse disposto a fazer algum tipo de negócio. Senhor não faz negócio com servo.Pelo contrário, servo que confia no seu senhor faz somente sua vontade, sem exigir recompensas imediatas ou futuras.

Numa outra passagem interessante, a Bíblia diz que nós sequer sabemos como orar a Deus (Romanos 8:26). Não sabemos também nem como pedir porque as nossas intenções nem sempre são aprovadas diante de Deus (Tiago 4:3).

Muito mais do que ter fé para pedir, há uma fé que consiste em acreditar em Deus e na Sua Vontande. Temos muita impaciência em ver nossos desejos realizados, sem nem saber se eles serão bons ou ruins para nós, que acabamos nos esquecendo que Deus é o Senhor de nossas vidas e Ele que sabe de nossas necessidades. A Bíblia recomenda que devemos entregar nossas vidas a Ele, e confiar, pois Ele bem sabe o que é melhor para nós e o que fazer para realizar em nós o melhor de Sua Vontade (Salmos 37:5). Ele, e somente Ele, sabe quais de nossos pedidos serão bons ou ruins para nós no futuro, por isso, não deve caber a nós melhor pedido do que o simples cumprimento da vontade de Deus em nossas vidas.

Sou daqueles que não acredita em campanhas de prosperidade. Até porque a motivação da prosperidade que se busca na maioria dos casos é a financeira. E ser prospero financeiramente não significa ser mais próximo de Deus. Pelo contrário, dinheiro nunca foi sinônimo de salvação (Mateus 19:24). O que vejo em campanhas milagrosas, são sempre as mesmas pessoas, que não entenderam que a prosperidade não estar em ser insistente, mas em entender o real significado do que é ser próspero. Deus que ver todos os seus servos prósperos. Não ricos, mas prósperos. Prósperos na fé, na graça, no amor e no conhecimento da verdade de Deus. Bênçãos financeiras seguramente não são parte do melhor de Deus para a vida de seus servos.

Também é verdade que Deus não quer que seus filhos vivam na pobreza, passando por necessidades (Salmos 37:25). Deus deseja também que sejamos fartos, mas que acima de tudo não tenhamos mais do que o bastante, para não corrermos o risco colocar os bens que temos à frente da nossa dependência que devemos ter de Deus. Antes de sermos mestres nas exigências à Deus, precisamos ainda aprender a lição da fidelidade, e aprender a provar que somos fiéis antes de querer pedir que Deus abra as janelas dos céus para nos abençoar (Malaquias 3:10). Fidelidade vem antes de qualquer tipo de exigência.

A Bíblia nos mostra que existem coisas muito mais maravilhosas do que um bom emprego, um carro melhor ou uma casa nova. E essas maravilhosas coisas sim, mereciam estar diariamente em nossas orações e são dignas de fazermos “campanhas” para alcançá-las.

“Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas.” (Apocalipse 3:18)

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