O amor se prova pela renúncia. Quando amamos de verdade uma pessoa, renunciamos muitos momentos com outras pessoas para ficar ao lado da pessoa amada. O amor faz com que deixemos de lado muitas coisas que para os outros parecem ser importantes demais, mas para nós não é.
Como uma decorrência disso, o amor envolve prioridades. Como seres humanos não-imparciais, por mais que tentemos negar, não podemos amar de forma igual duas ou mais pessoas ou coisas. Há momentos em que nós temos que fazer escolhas difíceis. E é exatamente nesse momento que demonstramos aquilo que amamos mais. Assim acontece na vida e a própria Bíblia cita um exemplo bastante conhecido:
“Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe. E disse ele: Todas essas coisas tenho observado desde a minha mocidade. E quando Jesus ouviu isto, disse-lhe: Ainda te falta uma coisa; vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem, e segue-me. Mas, ouvindo ele isto, ficou muito triste, porque era muito rico. E, vendo Jesus que ele ficara muito triste, disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Porque é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” (Lucas 18:20-25)
O exemplo do jovem rico vale muito para os nossos dias. Como ele, não faltam pessoas na igreja de hoje capazes de cumprir todos os requisitos de um religioso fiel. Nas igrejas, há pessoas e mais pessoas dispostas a falar que é cristão, a pular, cantar, gritar, falar em línguas, profetizar, pregar, chorar. Mas há poucas, muito poucas pessoas dispostas a renunciar aquilo que amam na terra para servir a Deus. Não hesitamos em estudar um pouco mais, arrumar um emprego a mais, assumir um compromisso a mais, ainda que isso diminua o nosso tempo com Deus. E ainda somos capazes de dizer que amamos a Deus acima de todas as coisas. Contradizemos a nós mesmos ao dizermos que amamos a Deus e não provamos isso ao não renunciar praticamente nada!
Existe algo que todos nós precisamos entender: Deus é auto-suficiente, e é o único que não depende de nada nem de ninguém para continuar existindo, seja de nós, dos anjos ou de qualquer ente por Ele criado. Absolutamente nada. Dele é tudo aquilo que existe de precioso ou de importante que a você possa “pertencer” (Ageu 2:8). Os homens, bons ou maus, só estão vivos porque ele permite isso. Por mais que você tenha casas, carros ou diversas posses, coisas simples como uma pequena célula cancerosa que se multiplique, um pequeno vírus que se alastre no seu corpo, ou até mesmo um passo errado que leve você a tropeçar numa escada, pode levar você a “perder” tudo aquilo que você acha que é seu. Por isso, não há nada que pertença a você, que você possa dar a Deus, simplesmente porque nada do que está conosco pertence a nós, por mais rico que você possa parecer aos homens. O salmista ainda faz essa mesma pergunta (“Que darei eu ao SENHOR, por todos os benefícios que me tem feito?”). Uma pergunta que todos nós também deveríamos fazer. E é por isso, por não sermos donos absolutos de nada que está em nossas mãos e pela impossibilidade de dar algo a Deus, é que a única coisa que podemos fazer a Deus, como prova de nosso amor por Ele, é renunciar aquilo que Ele mesmo tem nos dado. Podemos renunciar as primícias da renda que Ele nos dá, ou parte do tempo dos dias que ele nos acrescenta para passarmos na Sua presença, ou ainda renunciarmos a nós mesmos, aos nossos prazeres e vontades e submetermos à vontade d’Ele. A quantidade de vezes que fazemos renúncias desse tipo é então proporcional ao amor que temos ou que estamos dispostos a oferecer a Ele. Se não fazemos nada semelhante isso, a dura verdade é que não amamos a Deus, pois não demonstramos isso, ou que o nosso amor a Ele não passa de discurso.
Convido você nesse momento a fazer uma análise sincera nas suas atitudes no último ano. Quais foram as decisões importantes que você tomou no ano passado? Em quantas delas você se decidiu, não pela conveniência, mais por aquela opção que te aproximava mais a Deus, que te dava mais tempo com Ele, e não contrário? Pergunto mais: será que em todos os meses do ano você foi fiel a Cristo com suas finanças, conforme o que está escrito na Bíblia? Em quantas dessas decisões você consultou a Deus antes de tomá-las? A resposta a essas perguntas pode nos dar a noção aproximada da prioridade que damos a Deus em nossas vidas.
O amor de Deus por nós também é exigente. Assim como Deus provou o seu amor aos homens da forma mais intensa que poderia fazer, oferecendo a vida de Seu próprio Filho (João 3:16), Ele também requer que nós façamos algumas renúncias. Requer que renunciemos àquilo que o mundo oferece (Tito 2:12), à nossa tranqüilidade (2 Timóteo 3:12) e até mesmo às nossas próprias vidas (Mateus 16:24).
Sobre o amor a Deus, cabe aqui mais uma observação: o amor a Deus está intimamente ligado à fé que temos n’Ele. Veja:
“Porque
Fé e amor andam juntos. Não há fé sem amor, seja ao próximo ou a Deus. Um dos motivos que nos leva à falta de renúncia é a nossa falta de fé. Por mais que possa parecer estranho, mas uma parcela significativa das pessoas que estão nas igrejas não têm certeza absoluta da existência de Deus, de que Jesus Cristo morreu na cruz e da eficácia desse sacrifício. Estes estão ali talvez porque amigos ou familiares estão ali também, por medo de ir para o inferno, por se sentirem bem ali ou talvez esperando que Deus se revele isso a ele para que se convença da Sua Existência. Prova disso, é a grande quantidade de pessoas que vão à igreja, mas não tem interesse nenhum em se envolver no trabalho ou assumir encargos na obra de Deus. Pela fé destes ser infrutífera, não firmadas na verdade da palavra de Deus, muitos desses sucumbem, dia após dia, e saem por aí falando coisas absurdas sobre a igreja de Deus. Por não entenderem a verdade de Deus sobre a renúncia às primícias do fruto de seu trabalho, falam que os líderes são ladrões e só querem roubar o dinheiro dos fiéis. Assim, estes que outrora se disseram cristãos, acabam por engrossar as fileiras daqueles que se tornaram inimigos do evangelho de Deus.
Há ainda um outro grupo de pessoas na igreja. É o grupo daqueles que estão plenamente convencidos de que Deus existe e que Jesus Cristo morreu na cruz por nossos pecados. Mas param por aí. Não tomam atitudes que demonstrem que a sua fé é real e que é capaz de fazer diferença na sua vida e na vida dos outros, fazendo com que a sua fé não tenha a menor eficácia (Tiago 2:17). Nisto reside um outro problema: o da fé que não gera frutos, pois não está acompanhada do amor, que é um elemento que deve estar presente em tudo aquilo que fazemos a Deus e ao próximo, pois é a demonstração da inspiração de Deus em nossas atitudes, já que Ele mesmo é, em sua essência, o amor (1 João 4:12).
Em face disso, permita-me uma última pergunta: Você estaria pronto para dias em que o seu amor e a sua fé sejam provados? Pode estar muito perto o tempo de você tenha que renunciar a sua própria vida por amor a Jesus Cristo. E aí, você daria sua cabeça a prêmio, ou agiria como o jovem rico, que não quis optar por aquilo que para ele certamente pareceu como trocar o “certo pelo duvidoso”? Pense nas escolhas que você hoje tem feito e se você realmente tem uma fé e um amor tão amadurecido a ponto de renunciar a tudo e a todos pelo amor a Deus e ao Seu Evangelho, pois esse dia da renúncia pode chegar mais cedo do que você pode estar pensando. Quem hoje renuncia pouco, certamente não estará pronto para renunciar tudo no futuro. No próximo artigo, falaremos um pouco mais sobre isso.
“Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.” (Hebreus 12:1-2)
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