domingo, 15 de março de 2009

Você estaria pronto para se tornar um mártir?

O próprio título já nos intriga antes mesmo de ler o texto. A palavra “mártir” é realmente muito chamativa. O dicionário Aurélio atribui dois significados a esta palavra: “1. Quem sofreu torturas ou a morte, por sustentar a fé cristã. 2. Quem sofre muito.” Existem muitos livros famosos que citam homens e mulheres que poderiam buscar a Deus em seus quartos ou sentados no sofá, mas que preferiram fazer a diferença, levando a palavra de Deus ainda que aparentemente “fora de tempo” (2 Timóteo 4:2), em lugares onde a perseguição tornava esse trabalho quase impossível. Destaco dois livros: “Heróis da Fé” e “O Homem do céu”. Se o primeiro cita exemplos do passado, o segundo mostra que ainda hoje existem países onde o cristianismo ainda atrai perseguição.

Assim, não houve um único tempo na História onde todos os cristãos do mundo puderam levar a palavra de Deus livremente. Desde os tempos da igreja primitiva, após a ressurreição de Cristo, imperadores romanos tinham prazer em ver milhares de cristãos sacrificados ou tragados por animais selvagens. Séculos depois da queda do Império Romano do Ocidente (século V), seria criado o “Tribunal do Santo Ofício” ou “Inquisição”, que seguiu matando outros milhões que negavam a modelada fé imposta pelo clero medieval. Mesmo com a Reforma Protestante e o fim desse Tribunal, em vários lugares do mundo – principalmente na Ásia – pouca coisa mudou. Há países que até hoje combatem a fé bíblica e cristã. Como citei em outro artigo, o país que atualmente mais tortura – e por vezes até mata cristãos - é a China.

Viajando na história, não faltam exemplos reais dos mais variados tipos de torturas e assassinatos contra cristãos. Os apóstolos de Cristo talvez sejam os primeiros e principais exemplos. Uns foram mortos pelo pescoço (Lucas, Tiago Maior, Filipe e Paulo), outro pela espada (Mateus), outro arrastado pela rua ainda vivo (Marcos), outro esbordoado até à morte (Tiago Menor), outro esfolado vivo (Bartolomeu) e Pedro e André foram, assim como Cristo, crucificados. O primeiro de cabeça para baixo e o segundo, continuou pregando da cruz ao povo até morrer. Dos 12 apóstolos, apenas Judas e João não morreram como mártires. Mas ainda assim morreram de forma triste. O primeiro, após ter seu coração semeado pelo diabo (João 13:2), traiu Jesus e teve um arrependimento tão doloroso que acabou cometendo suicídio. O segundo chegou a escapar depois de lançado numa caldeira de azeite a ferver, vindo a morrer de morte natural, após ter, provavelmente, sido exilado numa ilha e ali escrito o livro de Apocalipse.

Como citei anteriormente, as barbaridades continuariam em maior escala no Império Romano. Diversos imperadores torturavam cristãos ou organizavam espetáculos de animais perseguindo e devorando cristãos e diversos outros tipos de violência infundada eram cometidos. O imperador que foi mais longe nos abusos cometidos contra os cristãos foi Nero. Sua brutalidade foi tamanha que ele é visto por determinados setores do cristianismo (que negam que o Apocalipse vai se cumprir no futuro) como o Anticristo citado pela Bíblia. Há fontes históricas confiáveis que relatam que Nero acendia tochas humanas com os cristãos que, cobertos de piche, iluminavam seus jardins. Ele ainda é acusado de vestir peles de animais em mulheres e crianças e abandoná-los à mercê dos animais ferozes. Crucificava cristãos em praça pública, sendo o apóstolo Pedro a vítima mais conhecida. Outros cristãos eram ainda amarrados nos esconderijos de animais selvagens para serem despedaçados. Mesmo tendo cometido tantas barbaridades contra os cristãos, ele ainda ateou fogo em Roma e incriminou (adivinhe quem?) os cristãos, fazendo nascer um motivo a mais para prendê-los e aplicar contra eles as mais requintadas torturas, por conta das “abominações” que ele supunha que os cristãos cometiam. Condenou então os cristãos não só pelo crime do incêndio, mas por ódio contra a raça humana.

Maiores proporções maiores em número de mortos foi alcançada pela Inquisição. Criada oficialmente pelo papa Gregório IX em 1233 e tendo sua face mais brutal extinta totalmente apenas em 1821, o número de mortes decorrentes da Inquisição ainda é motivo de divergência, já que em muitos lugares o quantitativo de execuções e julgamentos fugia do controle e dos registros. Alguns estudiosos estimam algo em torno de 9 milhões de mortos. Esse papa, na bula que inaugurou a Inquisição, determinava: “Onde quer que os ocorra pregar estais facultados, se os pecadores persistem em defender a heresia apesar das advertências, a privá-los para sempre de seus benefícios espirituais e proceder contra eles e todos os outros, sem apelação, solicitando em caso necessário a ajuda das autoridades seculares e vencendo sua oposição, se isto for necessário, por meio de censuras eclesiásticas inapeláveis” (compare as palavras do papa com o que a Bíblia cita no versículo transcrito no parágrafo seguinte). A principal justificativa para tantas mortes era o combate à prática de heresia. Heresia que era simplesmente a pregação ou instrução de quaisquer práticas religiosas diferentes daquela orientada pelo Vaticano, o que incluía desde práticas de bruxaria a até mesmo a pregação de um cristianismo alternativo aos dogmas, muitas vezes influenciados por práticas religiosas pagãs. O principal método utilizado era o da carbonização de pessoas ainda vivas. Argumentavam os inquisitores que o fogo era um elemento-símbolo da purificação, apontando para o pecado como desobediência de Deus e fazendo uma associação à imagem do Inferno. A inquisição apelava para uma necessidade de destruir publicamente o herege fazendo-o "por fogo em pó". O “herege”, era sacrificado por ser um contestar a "verdade" imposta. E contestar naquele tempo não era permitido.

“Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus.” (João 16:2)

Corpos eram queimados, mas as idéias permaneciam. O tcheco Jan Hus foi um dos exemplos mais conhecidos dentre os mortos pela Inquisição. Além de ser um importante pensador lingüístico (foi responsável pela introdução do uso de acentos na língua checa de modo a fazer corresponder cada som a um símbolo único), ele foi um dos que tentou reformar o pensamento cristão imposto na época. Não escapou da excomunhão e nem da fogueira, mas foi responsável por uma famosa profecia. Antes de ser queimado, Hus disse as seguintes palavras ao carrasco: "Vocês hoje estão queimando um ganso (Hus significa "ganso" na língua boêmia), mas dentro de um século, encontrar-se-ão com um cisne. E este cisne vocês não poderão queimar." Estas palavras tornaram-se célebres e seriam atribuídas a Lutero (que 102 anos depois pregou suas 95 teses em Wittenberg), e costumeiramente se costuma identificá-lo com um cisne.

Apesar do papa João Paulo II ter, em 2004, pedido perdão pelos assassinatos brutais cometidos pela Santa Inquisição católica, o sangue foi derramado e o dano nas vidas e famílias que foram destruídas séculos atrás é irreparável. Por isso, mortos não podem perdoar simplesmente porque já não podem emitir sua própria vontade. E a Bíblia dá sinais de que Deus, o Único que poderia perdoar imperadores romanos e papas inquisitores pelo sangue que estes derramaram, não parece que será tão benevolente assim com aqueles que tiraram brutalmente a vida de muitos santos (Apocalipse 16:6 e Lucas 11:51).

Mesmo nos dias de hoje, num tempo onde se fala em liberdade de crença, direitos do homem, justiça social e tantos outros termos vagos, ainda há perseguição e martirização contra cristãos. Cerca de 50 países compõem atualmente a chamada igreja perseguida. Pela sua população, que ultrapassa a marca de 1,3 bilhões de pessoas, a China acaba sendo o maior exemplo, já que a perseguição é também proporcional ao seu território e população. Nesse país, o governo não tolera qualquer tipo de movimento que possa ser uma ameaça ao seu poder – e o cristianismo ele entende ser ameaçador. Enquanto no Brasil se consegue Bíblias a preço de banana (ou ás vezes até de graça), cerca de 50 milhões de cristãos chineses ainda esperam por sua primeira Bíblia. Não faltam ali casos de igrejas invadidas e de cristãos presos, também vítimas de agressões físicas. A conivência das autoridades internacionais a esse tipo de violência, permitindo que se realizasse nesse país inclusive os Jogos Olímpicos, só mostra que os governantes deste mundo só estão se importando com seus negócios e lucros e que no fundo eles pouco se importam em garantir o respeito à diversidade religiosa e ao cristianismo ou simplesmente aos direitos humanos que eles dizem defender. Enquanto no mundo só se fala em valorização de moeda, crise financeira, bolsas de valores e outros termos financeiros, milhares de pessoas continuam tendo seus sangues derramados injustamente ao levar a palavra de Deus, o que só prova que o mundo está atolado no egoísmo, na ganância e no desprezo pelo semelhante (1 João 5:19).

Mesmo nos tempos em que Apocalipse foi escrito, quando o número de mortos era pequeno frente ao total somado até hoje, a Bíblia diz que a quantidade de pessoas que já foram martirizadas por causa do evangelho nos últimos dois mil anos é tão grande que a alma delas clama por vingança! Veja:

“E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram.” (Apocalipse 6:9-11)

Repare que o número daqueles que devem morrer como mártires ainda não está completo. Isso traz a tona a seguinte questão: Você entregaria sua vida a qualquer custo, daria sua cabeça a prêmio e até mesmo se submeteria aos piores tipos de torturas até a morte e ainda assim permaneceria sem negar o nome de Cristo? Se você pensou demais para responder ou se a resposta a essa pergunta for NÃO, é hora de repensar o tipo de fé que você tem em Jesus Cristo e se realmente você é um discípulo verdadeiro de Deus e que tem o coração comprometido em fazer Sua vontade (Efésios 6:6). Pelos exemplos de homens que vimos, notamos que nem sempre é tão fácil assim seguir a Deus. E devo lhe alertar que o modelo de cristianismo presente na Bíblia (Romanos 14:17) passa longe dos referenciais da “Teologia da Prosperidade” ou do Ecumenismo, cada vez mais populares, e que geram cada dia mais conformismo e frieza no amor a Deus. Entretanto, muitos de nós está acostumado com sombra e água fresca, ou pior, alguns estão acostumados a buscar a Deus somente quando temos um problema financeiro ou de saúde. Somos rápidos para buscar a Deus quando o assunto é a nossa prosperidade financeira (talvez por isso haja tantos pregadores que trocaram as pregações sobre o “pecado, justiça e juízo” [João 16:8], por palavras mais “atrativas”, como se fosse possível negociar o evangelho), mas pouco criativos na demonstração de amor a Ele. E no amor não há meio termo: ou você ama a Cristo incondicionalmente, mais até do que a sua própria vida ou de um filho seu (Mateus 10:37), ou você não é digno de ser salvo por meio de Jesus Cristo.

“Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.” (Marcos 8:35)

“E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições.” (2 Timóteo 3:12)

“E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte. (Apocalipse 12:11)

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