domingo, 15 de novembro de 2009

A cultura do relativismo

Nas últimas décadas em nosso país, cresceu significativamente o número de igrejas evangélicas sob denominações diferentes. Nas grandes cidades, a cada bairro que freqüentamos, nos acostumamos a deparar com uma igreja de nome diferente, da qual muitas vezes nunca tínhamos ouvido falar.

Em parte isso é muito bom. Saber que existem igrejas por toda parte nos faz, em primeira análise, presumir que há também um número significativo de evangélicos nessas regiões, o que prova o crescimento do número de cristãos. Só que esse crescimento às vezes se dá de forma desordenada. Ao mesmo tempo em que cresce o número de igrejas, cresce também a quantidade de doutrinas divergentes entre essas denominações. Assim, essa “expansão doutrinária” tem feito com que muita gente se diga evangélica mas, sem o devido esclarecimento, estão freqüentando igrejas que pregam palavras que em nada contribuem para que elas se aproximem do verdadeiro conhecimento de Deus.

Mas, ao contrário desses contraditórios evangelhos pregados entre as igrejas, a Bíblia não se contradiz. Logo, interpretações diferentes aplicadas num livro que possui uma estruturação lógica única, não resultam em outra coisa senão num relativismo bíblico.

Relativismo, como sugere o próprio nome, é uma prática que repudia qualquer verdade ou valor absoluto. Nessa linha de pensamento, não existiria um conceito único do que seja “verdade”, mas sim, idéias que variam conforme a época, o lugar, o grupo social e os indivíduos. É como se nada fosse certo, tudo dependesse do ponto de vista analisado. E é assim que as igrejas têm se comportado nos últimos anos.

Há igrejas que decretam a forma que as pessoas devem se vestir, sendo que outras igrejas deixam isso à escolha do crente. Há igrejas que determinam onde as pessoas de cada sexo devem se sentar, outras não. E há igrejas que consideram determinados comportamentos como sendo pecado, e outras aceitam o mesmo tipo de conduta como comum, normal. E esse último é o ponto mais frágil da questão do relativismo: quando as pessoas perdem a noção real do que seja pecado e acabam aceitando determinados comportamentos pecaminosos em suas vidas como se esses comportamentos não o fossem.

Uma conseqüência direta disso é que a igreja tem se acostumado a “reciclar” valores do mundo e trazê-los para dentro da igreja. Muitos crentes querem ser parecidos demais com o mundo, querem ouvir o mesmo tipo de música, vestir as mesmas roupas, ir para os mesmos lugares, na crença de que isso não os farão estarem mais distantes de Deus. Quando chegam novos convertidos na igreja, eles não são incentivados a mudar de comportamento, apenas reformular suas velhas práticas sob um padrão “gospel”, num mundo onde tudo – bares, boates, músicas, festas – faz lembrar as mesmas coisas que eles já experimentaram antes de vir para a igreja.

Já entre o meio adulto, o relativismo se traduz em conformismo. Os crentes já não sentem o mesmo desejo de pregar o evangelho, de levar pessoas a conhecer a Deus. Outrossim, as pessoas só têm se agradado de palavras neutras. Daquelas que você escuta, vai embora, e volta para casa como se nada tivesse ouvido. Nós estamos tão acostumados com o mundo – trabalho, estudos, problemas pessoais – que deixamos de ter as coisas de Deus como prioridade. A Bíblia mesmo diz que nos últimos dias as pessoas amariam tanto as coisas do mundo e estariam tão cheias de iniqüidade, que elas se tornariam pessoas frias no amor (Mateus 24:12).

Além disso, o relativismo também nos faz perder referenciais. E tem muita gente perdendo o referencial daquilo que é ser santo, na medida que a santidade deixou de ser um valor a ser cultivado. Prega-se no meio das igrejas que Deus sempre está disposto a perdoar, como o pai que perdoou o filho pródigo mesmo depois de tantos erros. Assim, pecar e pedir perdão tem sido para muita gente uma prática tão comum quanto respirar, algo que as pessoas estão acostumadas a fazer. É claro que somos perdoados quando confessamos os pecados, mas não há uma confissão sincera sem arrependimento. E o arrependimento implica em mudança de postura, em abandono do pecado, que deixa de ser uma prática reiterada. Veja o que a Bíblia diz sobre o pecado:

“Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14)

Nessa certeza do eterno perdão, sem mudança de comportamento, está um grande erro. O perdão de Deus não pode servir de justificativa para a prática pecaminosa contínua, desenfreada. Se a pessoa se diz cristã, mas mantém uma conduta permissiva ao pecado, não buscando a santidade como valor a ser seguido, certamente ela precisará analisar se realmente nasceu de novo e se tornou-se mesmo uma nova criatura (2 Coríntios 5:17; Gálatas 6:15).

Assim, quem tem que mudar de postura e se ajustar, somos nós, e não a Bíblia. Em nosso tempo, muita gente tem dito que a Bíblia é um livro antigo, que valeu para dois mil anos atrás, e que para ser adequadamente compreendido precisaria ser contemporizado, relativizado, adaptado ao nosso tempo. E assim, criam suas próprias interpretações para a Bíblia ao invés de moldar seu comportamento a partir dela, o que é um erro crasso.

A verdade é que o evangelho não precisa ser adaptado para uma sociedade que “mudou muito nos últimos dois mil anos”. É preciso que entendamos algo: por mais que possa parecer o contrário, a Bíblia não foi escrita para os homens dos tempos dos apóstolos. Até porque o Novo Testamento só foi adequadamente publicado e popularizado para vários idiomas apenas nos últimos séculos. E, definitivamente, não haveria motivo para Deus inspirar homens para escrever uma série de recomendações para que estas precisassem ser “reformadas” tão rapidamente. Muita gente tem rejeitado quase tudo que Paulo falou, sob o argumento que Paulo viveu em outros tempos, em outra cultura. Mas a verdade é que Deus não fala de cultura, mas de santidade, separação. Se nós estamos pautando nossa conduta a partir de uma “cristianização” dos comportamentos do mundo, isso não pode ser chamado de santo. Pelo contrário, estaríamos, nessa hipótese, caminhando rumo à mornidão espiritual, nos contentando com aquilo que parece bom, mas ao mesmo tempo está contaminado com a “aparência do mal”. Não precisamos reinterpretar a Bíblia, ela não está ultrapassada. Nós é que estamos a enxergando como uma jaula, de onde precisamos sair para termos “liberdade” para agir conforme nossos tolos princípios. Sobre o evangelho pregado na Bíblia, veja o que Paulo dizia:

“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.” (Gálatas 1:8 e 10)

Paulo não está dizendo outra coisa, senão que os padrões do evangelho bíblico não podem ser mudados no tempo! São palavras eternas. A Bíblia não permite “reinterpretação reformuladora”. Nem tampouco foi escrita para agradar nossas vontades, mas para nos mostrar um padrão, um modelo de conduta que precisa ser seguido por todos aqueles que querem se intitular servos de Deus.

Sobre a importância de se andar em santidade, J.C. Ryle (1816-1900) também falava algo que merece ser considerado:

“Os verdadeiros servos de Cristo sempre foram diferentes do mundo que os cercava — uma nação santa, um povo peculiar. E você tem de ser assim, se deseja ser salvo! Você pode argumentar que a este custo poucos serão salvos. Eu respondo: Eu sei disso. É exatamente sobre isso que nos fala o Sermão do Monte. O Senhor Jesus disse, há muitos séculos atrás: “E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” (Mateus 7:14) Poucos serão salvos, porque poucos se dedicarão ao trabalho de buscar a salvação. Os homens não renunciarão aos prazeres do pecado, nem aos seus próprios caminhos, por um momento sequer.”

Antes de servir-se das “bandejas reformadas”, aceitando tudo aquilo que se diz “pseudo-gospel-evangélico”, mas parecem ser padrões meramente adaptados do mundo, lembre-se de algo: sem uma vida de santidade, ninguém verá o Senhor. E se algo não promove em você uma aproximação a Deus, pode estar certo que terá o efeito contrário: fará com que você seja um cristão afastado de Deus e da Sua Palavra.

Por fim, afirmo com segurança que o maior termômetro para sabermos o quão próximos estamos de Deus precisa ser a Bíblia. Pegue as cartas de Paulo e compare ao que você tem vivido e ao que a sua igreja tem pregado. Se houverem poucas semelhanças, talvez esteja na hora de você realinhar suas motivações a respeito da obra de Deus e analisar se a igreja que você está freqüentando realmente tem pregado um evangelho genuinamente bíblico. Muita coisa precisa ser mudada quando percebemos que estamos indo na igreja por religião, passatempo ou para “encontrar amigos”. O verdadeiro evangelho de Deus nos confronta, nos exorta e nos leva a uma constante mudança de atitude. Não ao conformismo e a uma vida onde não se faz sacrifício algum para se seguir a Deus.

“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.” (Filipenses 4:8)

Um comentário:

Veroni Azevedo Sobrinho disse...

Concordo com voce. Gosto muito de ler seus escritos. Voce tem muito talento e eh admiravel ver um jovem dedicando sua vida ao Senhor Jesus e a pregacao do evangelho. Que Deus o abencoe e lhe de a cada dia muito temor do Senhor e sabedoria do alto para servi-Lo mais e mais. Que sua vida seja sempre um instrumento nas maos de Deus. Um forte abraco!