domingo, 1 de junho de 2008

Teologia da Prosperidade e crise da igreja moderna

Começo esse artigo contando um fato que aconteceu comigo na última 5ª feira. Um professor meu de Direito contou em sala o seguinte fato real, que tentarei descrever resumidamente:

“Havia um advogado que tinha como cliente assíduo um homem responsável por jogos ilegais (do tipo “jogo do bicho”). Assim, sempre que esse homem tinha problemas com as leis, o que não era raro, ele chamava esse advogado para resolver tais querelas perante à justiça. Só que chegou um dia em que esse homem, inexplicavelmente, não apareceu mais em seu escritório. Tempos depois, esse advogado encontrou o filho desse homem, e o questionou sobre o porquê do pai dele ter sumido há tanto tempo. O advogado havia pensado que poderia ele ter ficado insatisfeito com o seus serviços ou algo do tipo. Mas o filho daquele homem respondeu que não. E explicou o porquê: eles haviam mudado de “ramo de negócio”. Cansado de ter problemas na justiça, eles resolveram trabalhar com algo legal. Como na América Central os jogos de azar são legais, esse homem enviou parte de seus funcionários para um curso de espanhol, e após isso, abriu dois cassinos nesse continente e os mandou para lá. Só que restou uma parte dos funcionários, que não era tão estudada a ponto de aprender um novo idioma e enfrentar novos desafios. E surgiu uma idéia no mínimo “diferente”. Enviou esses menos letrados para o sul do país, onde abriu algumas (pasmem!) igrejas evangélicas – que como sabemos, é imune de impostos - e deixou esses “profissionais” como pastores e recolhedores dos dízimos e das ofertas. O que é de admirar é que esse negócio das igrejas tem dado mais lucro àquele homem do que os cassinos, e a “igreja” só tem crescido e aberto novas unidades.”

Assim que o professor terminou de contar tal fato, boa parte dos colegas riu. Eu preferi refletir por alguns minutos no que havia ouvido. Em casa, pensei: Seria isso possível? Será possível que pessoas sejam enganadas tão facilmente, a ponto de não saber reconhecer um ministro do evangelho de Cristo e separá-lo de um impostor, um falsário? É possível que o povo seja enganado tão ardilosamente? A resposta que cheguei, biblicamente, é SIM (2 Timóteo 3:13; Mateus 7:15; 2 Pedro 2:1)!

Hoje em dia não se precisa de nada para se dizer ser ministro do evangelho. Basta abrir uma igreja e ter estratégias para atrair fiéis em potencial. Vivemos num tempo onde a apostasia se manifestou (2 Tessalonicenses 2:3), e atingiu inclusive as igrejas. É provável que boa parte dos cristãos do Brasil esteja, nesse exato momento que você lê esse artigo, sendo enganado por doutrinas que nada tem a ver com Cristo (Hebreus 13:9)! Existem várias igrejas em nosso país, como essa que mostrei anteriormente, onde líderes abusam de uma ilusão religiosa de um povo para se enriquecer, trazendo para si condenação. Milhares de igrejas têm se transformado em grandes supermercados, os crentes suas mercadorias e a palavra de Deus tem se tornado um simples acessório. Irmãos são rejeitados, ignorados e perseguidos dentro da igreja local se não adotarem determinado método questionável que a liderança implantou. Surgem até modas, camisetas, divulgando os nomes das estratégias, dos grupos a qual a pessoa diz pertencer. Talvez se Cristo vivesse nos nossos dias, ele teria que, literalmente lançar muitos “marqueteiros cristãos” pra fora do templo e virar muitas mesas de ponta à cabeça (João 2:14-16)!

A título de exemplo, freqüentei por algumas semanas uma filial de uma das maiores igrejas da minha cidade. Diga-se de passagem, é uma igreja que já chegou a vários países, logo poderíamos dizer seria uma igreja boa, abençoada, “de Deus”? Não sei. O que sei é que o culto de nada parecia com as ministrações simples dos apóstolos (Atos dos Apóstolos 3:6)!

Antes da pregação, todo domingo, repito, todo domingo, há uma ministração sobre prosperidade e as mesmas palavras e perguntas motivacionais são repetidas, do tipo: “Quem crê que essa semana vai ser uma semana de realizações?” ou “Quem crê que amanhã de manhã já vai ter uma bênção te esperando?”. Tais perguntas sempre seguidas de expressões que fazem um cidadão menos informado não saber se está num leilão, numa palestra do Lair Ribeiro ou numa igreja evangélica mesmo. Expressões como: “Se você quer ser abençoado, tem que abençoar também.” Ou “Quem aqui quer ser rico? Quem aqui quer dizimar um salário mínimo? Então tem que ofertar!”. Após as fervorosas ministrações dos dízimos e ofertas (sempre feitas logo depois do período de louvor, aproveitando a “atmosfera”), sempre pregações curtas (média de 20 minutos), baseadas em experiências pessoais, e pouco fundadas na Bíblia. Chega ao final do culto, e você tem a sensação de que saiu faltando algo, como se você tivesse ficado há dois dias sem comer e ter que se contentar com apenas 200 gramas de comida.

Ora, eu não fui à igreja porque eu queria prosperar, mas porque eu queria ouvir algo novo de Deus! Mas, será que isso importa? Para muitos, não. E assim, saí de um culto da mesma forma de que entrei, pois ouvi muito mais de dízimos, ofertas, de como crescer financeiramente e como ser abençoado, e praticamente nada daquilo que realmente eu precisava ouvir: do pecado, da justiça e do juízo de Deus (João 16:8).

Se você também anda se sentindo assim a cada noite de domingo, bem-vindo! Você está em mais uma das modernas igrejas brasileiras que se vendeu à Teologia da Prosperidade. Lamentavelmente, é essa a realidade em que muitas (e quase sempre grandes) igrejas do nosso país têm entrado. Um caminho de decadência espiritual tão profundo, que os crentes que já estão na igreja a algum tempo e já são um pouco cultos no conhecimento da Bíblia e que por isso desejam escutar boas mensagens, não estão mais agüentando a mediocridade e o vazio do que está sendo pregado nos púlpitos.

Provavelmente a maioria dos pregadores renomados que você conhece na sua cidade há muito tem deixado de pregar sobre o inferno, sobre a ira vindoura de Deus (muitos novos cristãos nem sabem o que é isso), sobre os pecados da humanidade e sobre santificação de vida. Afinal, isso já não atrai ninguém. As igrejas que pregam isso estão vazias. E se os líderes cristãos viraram reféns das estratégias emocionais e psicológicas e da “igreja orientada por propósitos” e do crescimento a qualquer preço, é muito melhor falar de prosperidade e, sobretudo, de dinheiro. Assim, muitos pastores se transformaram em doutores na arte de pedir durante os cultos. Quem convence melhor, quem enche mais o gazofilácio. Esse sim é o melhor “pregador”!

A tal busca pela prosperidade chegou e estacionou nas igrejas evangélicas. Assim, os pastores prometem mundos e fundos a quem der mais dinheiro para a obra de Deus. Baseando-se nisso, às vezes se ouvem mentiras desenfreadas, que beiram o ridículo, no ato hipócrita de ofertar.

Mas o que a Bíblia diz? Será que Deus quer mesmo que eu dê tudo que eu tenho para a igreja e assim seja abençoado? Será que Deus quer que eu faça isso, pra eu poder “ficar rico de forma justa”? Deus me quer mesmo próspero e ser próspero que dizer ser rico? Vejamos primeiro 1 Coríntios 16:2 e 2 Coríntios 9:7, quando Paulo fala de como deverão ser feitas as ofertas:

“No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder, conforme tiver prosperado, guardando-o(...)”.

“Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por constrangimento; porque Deus ama ao que dá com alegria.”

Aqui vemos dois pontos interessantes: cada um contribui de acordo quanto tiver prosperado e de acordo com o que Deus colocou em seu coração, sem constrangimento. Mas nas tais igrejas da prosperidade, não é bem assim que as coisas funcionam não. Muitos pastores malaquianos chegam a chamar de “adoradores de Mamom” aqueles que não contribuem com os valores que eles propõem. Com discursos ardentes, exigem que seus fiéis ofertem valores que muitas vezes não podem dar, para que sejam abençoados, como se Deus estivesse fazendo alguma espécie de permuta. Poucos são aqueles que contribuem com alegria, e não porque o pastor diz que a Bíblia manda que seja assim. Ao contrário, me ensinaram que eu tenho que limpar meus bolsos para assim Deus os enchê-los. Isso traz a tona, a seguinte questão: a quem seguimos? Veja:

Não podeis servir a Deus e às riquezas. (Mateus 6:24b)

Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. (1 Timóteo 6:10)

Cristo nunca viu os ricos com bons olhos os ricos. Até a salvação destes Cristo dizia ser no mínimo, difícil (Marcos 10:25). Cristo não veio pregar bênçãos financeiras nem tampouco as colocou em patamar tão importante para que a prosperidade financeira seja tão repetida domingo a domingo nas igrejas com a mesma intensidade que a própria ministração da palavra! O próprio desejo de ficar rico não deveria sequer passar pelo coração de um cristão (Lucas 12:34), já que a nossa fé e as nossas esperanças não são de vida regalada para esse mundo, mas para o vindouro. Não é aqui na terra que devemos fazer os nossos negócios dar lucro, mas nos céus é que devemos fazer nosso galardão crescer.

Nenhum soldado em serviço se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra. 2 Timóteo 2:4

Se queremos aproveitar tudo que o mundo nos oferece, talvez seja porque a nossa fé seja falha ou não cremos naquilo que Deus tem reservado para nós quando daqui partimos (1 Coríntios 2:9). Em crenças tão fúteis de riqueza, muitos dos crentes têm deixado filhos passar necessidades, distribuído cheques sem fundo a torto e a direito, tudo na idéia de que tem que dar o que o pastor diz que tenho que dar porque senão eu serei ladrão! Desconhecem um sério ensinamento de Cristo lá de Romanos 13:8a, que “A ninguém devais coisa alguma”. Tem gente que acha que está agradando a Deus dando boas ofertas, mas com o nome sujo nos serviços de proteção ao crédito ou deixando faltar comida em casa (1 Timóteo 5:8). Isso sim é engano! Muitos cristãos estão seguindo um falso evangelho da prosperidade, que não implica em mudança de vida, mas gera conformismo, crise espiritual e inquestionável submissão à liderança, principalmente quando o assunto é dar ofertas! Quando o seu pastor falar que está tendo revelações de Deus que os membros que derem determinada quantia (digamos, mil reais por exemplo) serão abençoados, ou que Deus revelou que você deve vender seu carro e dar pra igreja, abra a Bíblia e mostre para ele 2 Coríntios 9:7 (“Cada um contribua segundo propôs no seu coração”) e veja o que ele te responde. Pergunte a ele se Cristo mudou (Hebreus 13:8) ou se a Bíblia está mentindo! Se a resposta não for embasada biblicamente, aconselho-lhe a continuar contribuindo da forma que Deus tiver colocado em seu coração. Afinal, “onde termina a doutrina bíblica, começa a heresia”.

Não tenho dúvidas que já está mais do que na hora dos pastores de muitas dessas “igrejas de fachada” se voltarem às verdadeiras escrituras e perceberem o real significado da palavra prosperidade, passando a pregar de fato o que realmente é o bastante para sermos prósperos (2 Coríntios 12:9) e aqueles que são os verdadeiros preceitos religiosos que Deus quer que sigamos:

“A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo.” Tiago 1:27

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