domingo, 21 de dezembro de 2008

O falso profeta (II)

Obs. Antes de ler este artigo, favor ler o artigo anterior com o mesmo assunto (http://falandodabiblia.blogspot.com/2008/12/o-falso-profeta-i.html), para que o entendimento deste não seja prejudicado.

No artigo anterior, a partir de Apocalipse 13, que descreve a figura do falso profeta e fizemos uma análise detalhada do assunto, expondo suas principais características. Aquele que a Bíblia ainda chama de “besta que emerge da terra” será uma figura religiosa, em oposição ao Anticristo, que deterá o poder político.

Há estudiosos que defendem que esse falso profeta certamente será o líder da igreja católica romana, o papa. Alinho-me a essa interpretação, mas também concordo que não há base categórica para se falar de forma conclusiva que ele é mesmo o falso profeta. Mas há analogias que nos provam que isso pode perfeitamente acontecer, ou ainda, que essa é a hipótese mais provável!

Por ora, nesse segundo artigo do tema, antes de analisarmos o que diz Bíblia e os estudiosos do tema, faço um convite ao estudo da história da religião católica apostólica romana, já que, se vamos defender uma teoria sobre ela, precisamos antes de tudo conhecê-la.

Ao contrário do que muitos católicos queiram negar, a Igreja Católica Apostólica com sede em Roma não surgiu nos tempos de Cristo. Surgiu sim, no século IV, após séculos de perseguição romana, sob o apoio do imperador Constantino. Diz a história que este imperador teria tido em uma de suas batalhas, uma visão nos céus de um símbolo que apontava para o cristianismo. Ele então teria considerado essa visão um sinal dos céus e supostamente teria destronado os deuses pagãos e os substituído pelo Deus de seus escravos, dos cristãos. Mandou pintar nos escudos de seus soldados esse símbolo que viu, pois acreditava que com esse símbolo venceria suas batalhas. Porém, suas atitudes não se resumiram a simples pinturas em escudos, mas em pleno apoio à essa religião dentro de Roma, estabelecendo as bases para que dentro de seu império cessasse as perseguições aos cristãos e ainda, que eles se estabelecem como religião oficial. Religião romana que se tornaria tão forte ao ponto de subsistir mesmo à queda do Império Romano do Ocidente e se tornasse a mais forte instituição de poder na Europa em toda a Idade Média.

Mas nem tudo foram flores na relação de Constantino e a religião que acabava de se instalar como oficial. Após ter vencido batalhas e unificado o mundo romano sob influência “cristã”, Constantino convocou o concílio de Nicéia (325 d.C.), sob o intuito de unificar a igreja cristã, pois com divergências religiosas, o seu trono poderia perder o apoio por conta da falta de unidade espiritual. Nesse concílio se debateu a questão da Heresia Ariana [esse nome faz lembrar algo?], que dizia que Jesus Cristo não era divino, mas sim o mais perfeito das criaturas, e também estabelecer um consenso sobre a data da Páscoa.

Apesar de seu apoio ao cristianismo, a história apresenta dúvidas sobre se Constantino realmente se tornou cristão, já que ele foi batizado por um bispo supostamente ariano. A própria enciclopédia católica afirma que "Constantino favoreceu de modo igual ambas as religiões. Como sumo pontífice ele velou pela adoração pagã e protegeu seus direitos". Há fontes, como a Enciclopédia Hídria, que sustenta que Constantino nunca se tornou cristão, nem mesmo participou em sua vida de qualquer ato litúrgico, como a missa ou a eucaristia.

A associação de Roma à religião cristã criou um outro problema: o Cristianismo tornou-se a religião pessoal dos imperadores, mas estes deveriam regular o exercício do paganismo – isso, para qualquer cristão, significava transigir com a idolatria. Tal contradição no trono só seria resolvido no ano de 395 d.C., quando outro imperador, Teodósio I, fez com que o cristianismo se tornasse a única religião legal no império. Antes, com o mesmo Teodósio, em 381 d.C., a igreja recebeu o nome de Católica (universal), no concílio de Constantinopla com o decreto “Cunctos populos”.

Mas entre 325 d.C. (ano da aceitação do Cristianismo como religião reconhecida ao lado do paganismo) e 381 d.C. (ano que a religião se tornou a única oficial em Roma), diversas influências adentraram nessa religião cristã. Influências suficientes para desvirtuá-la em suas bases, quando comparada à religião da igreja primitiva, estabelecida pelos apóstolos, principalmente por Paulo de Tarso. Algumas delas:

  • Constantino influenciou em grande parte na inclusão da igreja cristã de dogmas baseados em tradições. Em 1546, como resposta ao movimento protestante, que pregava volta ao evangelho pregado na Bíblia, a Igreja Católica ainda equipararia sua tradição apostólica ao mesmo nível das Escrituras Bíblicas. Até hoje, a tradição apostólica (uma espécie de escritos continuamente modificados, onde consta o que a Igreja Católica Romana acredita ao longo dos séculos) tem peso igual ao da própria Bíblia no meio católico. Como se a própria Bíblia não recomendasse o contrário, ou seja, de que as palavras de Cristo são suficientes para salvação (Colossenses 2:22-23) e de que doutrinas humanas “além-Bíblia” em nada contribuem para uma fé genuína.

  • Pelo Édito de Constantino (321 d.C.), determinou-se oficialmente o domingo (não mais o sábado), como dia de repouso, descumprindo claramente a Bíblia (Levítico 26:34). Determinação esta que é seguida até hoje em toda a terra, salvo pelos judeus. Essa foi uma das claras influências pagãs no ambiente cristão, já que o domingo foi escolhido por ser o "dia do Sol", uma reminiscência do paganismo do culto de “Sol Invictus”.

  • Constantino ao adotar o cristianismo, fez com que os cristãos recebessem a influência de doutrinas das Religiões de Mistério da Babilônia, que eram bem diferentes dos ensinamentos apostólicos, tornando seu ensino uma forma sofisticada de filosofia pagã camuflada com os ensinos de um Deus onipotente e transcendente. Com isso, a Igreja adotou a adoração da mãe e do menino, o batismo de bebês, a confissão a um sacerdote e muitos outros aspectos das religiões antigas não praticados pelos apóstolos de Cristo, nem previstos na Bíblia.

Assim, todo o sistema religioso romano se construiu sobre bases ruídas. As práticas que os apóstolos aprenderam de Cristo e passaram a pregar às igrejas primitivas foram substituídos por hábitos pagãos. Isso se fez necessário para que a igreja se unisse ao Estado romano. Mas a Bíblia deixa claro que o reino de Deus não pode estabelecer qualquer tipo de relação com os governos deste mundo, pois são de origem completamente diferente (João 18:36). Em tudo que se faz na vida onde se faz necessário uma união ou um acordo, a vontade de um dos lados não pode prevalecer totalmente sobre a do outro quando as partes são diferentes. Ambas precisam fazer concessões, senão não há acordo. E é exatamente por isso que os princípios cristãos não podem se unir a este mundo, sem perder sua essência, pois suas origens são diferentes e não podem se submeter a influências pagãs ou mundanas (1 João 5:19). Se os bispos que idealizaram a igreja católica fossem realmente inspirados por Deus, eles jamais teriam se unido à Roma, nem aceitado qualquer tipo de influência desse poder imperial em suas práticas e liturgias.

Mesmo após a queda do império romano, essa religião ainda daria mostras de que as influências pagãs romanas continuaram sendo praticadas em meio às suas liturgias. Algumas delas são bastante conhecidas e seu desrespeito à doutrina bíblica é evidente. Vamos também a elas:

  • No ano de 1123, a igreja católica impôs o chamado celibato clerical, que é seguido até hoje por aqueles que desejam ser padres. Mas, veja o que Paulo fala a respeito disso em 1 Timóteo 4:1-3: "Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrina de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizadas a sua própria consciência; proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças". Proibir o casamento, impondo o celibato obrigatório, é uma prática condenável na Bíblia. O próprio Deus, desde os tempos da Criação, sabia que não era bom que o homem ficasse só (Gênesis 2:18). Em razão desse descumprimento, dentro do meio católico tem havido grande incidência de pecados sexuais por parte de seus padres desde então.

  • Em 1184, surge a medida religiosa mais obscura de todos os tempos: A inquisição! Através dela, houve uma matança forçada dos “heréticos” (assim considerados quaisquer pessoas que não seguissem a doutrina católica, assim considerados até mesmo os que, como os da igreja primitiva, seguiam as práticas cristãs originais). Milhares de cristãos (que outrora seriam chamados de protestantes) e outros grupos que negavam as práticas católicas foram mortos, numa alusão a João 16:2 (vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus). Estima-se que a igreja católica teria levado, através dessa prática, à morte de 8 milhões de pessoas em todo o mundo. Um número maior até que o de mortes na tenebrosa Alemanha nazista.

  • Em 1190 a igreja começou a praticar a chamada venda de indulgências. Por ela, a igreja deixou de ensinar a salvação por meio da fé em Jesus Cristo e em sua graça e misericórdia, para pregar a salvação pelas obras, exatamente o contrário do ensinado por Paulo: Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8).

  • Por volta de 1200, substituiu-se o pão pela hóstia na missa católica. Qual o por quê dessa substituição, se segundo a própria Bíblia e as práticas das ceias de até então eram celebradas com o pão e se até a fica claro que a ceia que Jesus Cristo tomou foi sua última ceia com o pão, literalmente (1 Coríntios 11:24)? A maioria das católicos sequer já imaginaram o porque dessa substituição e argumentam que a hóstia não difere do pão descrito na Bíblia, pois o significado é o mesmo. O que não sabem é que algo semelhante era feito nas religiões pagãs no Egito Antigo. Uma espécie de bolacha circular, com um símbolo religioso insculpido, era também erguida para o alto nas cerimônias religiosas dos sacerdotes pagãos egípcios. Essa bolacha tinha formato circular exatamente em alusão ao deus-sol da religião pagã.

  • Em 1215, começou no meio católico a prática de confissão de pecados a um sacerdote, substituindo Jesus Cristo como nosso intercessor diante de Deus, colocando um homem em seu lugar! Isso é claro em 1 Timóteo 2:5-6: "Porque há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem". De acordo com os historiadores da Roma antiga, essa prática da confissão auricular não teve início no cristianismo, mas no paganismo romano, com os sacerdotes de Baco.

Diversos outros paganismos ainda entrariam na Igreja Católica ao longo do tempo. Poderíamos citar com maior nível de detalhe outros dogmas incorporados sem nenhuma base bíblica, como o culto aos santos (375 d.C.), o culto a Maria (432 d.C.), a doutrina do purgatório (593 d.C.), o culto às imagens e relíquias (788 d.C.), a canonização dos santos (993 d.C.), as festas pelos mortos (1003 d.C.), o dogma da infabilidade papal (1076 d.C.), a doutrina de que há sete sacramentos (1140 d.C.), a instituição da Ave Maria (1316 d.C.), a doutrina do purgatório (1439 d.C.) a incorporação dos apócrifos ao cânon (1546 d.C.), a presença pessoal corpórea da Virgem no céu (1950 d.C.), entre tantos outros.

Os que lêem esse artigo podem estar pensando que se trata de alguma espécie de acusações aos católicos e à sua doutrina, um desrespeito à “Santa Igreja de Cristo”. Por isso, faço um último comentário. Se os que lêem esse artigo acreditam que a Igreja Católica é uma instituição santa como Cristo o é, ou que ela é a única igreja, segundo disse o papa João Paulo II, que “fora da Igreja Católica Romana não há salvação”, não cabem críticas ao que escrevo, já que cremos em coisa diferentes. Não creio em instituições religiosas santas, mas em um Deus que se fazendo presente na vida de seus filhos, os fazem ser santos, não as instituições que eles congregam (1 Coríntios 1:2). Creio em Jesus Cristo como único Senhor e Salvador de minha vida, e que não estabeleceu uma igreja no mundo, mas fora dele. Um Deus que não se resume a religiosidade, mas que se faz presente sempre que duas ou três pessoas se reúnem em seu nome (Mateus 18:20).

Os fatos descritos neste artigo são fatos históricos, registrados, que podem ser pesquisados e comprovados em livros de história ou na própria internet. Convido aqueles que ainda acham que esse artigo é infundado a pesquisar mais, conhecer a história daquilo que crêem, assumindo uma posição crítica, discernindo o que crêem e não aceitando simplesmente aquilo que foi pregado a você e à sua família por várias gerações. Fujamos das religiosidades e busquemos conhecer a verdade de Jesus Cristo (João 8:32), fazendo juízo de valor de tudo aquilo que ouvimos de homens, mesmo quando estes têm à sua volta um sistema que aparentemente os legitimem como “vicário [representante] de Cristo na Terra”. Estou certo de que o objetivo deste artigo está atendido se levá-lo a refletir e assumir uma posição crítica sobre sua própria fé, de questionar, pesquisar, buscar a verdade de Jesus Cristo além daquilo que você lê ou ouve entre as paredes de um templo religioso. Só assim, prosseguiremos em conhecer a Cristo de forma genuína e por Ele seremos salvos dos sistemas religiosos deste mundo (Oséias 6:3).

Todo aquele que vai além do ensino de Cristo e não permanece nele, não tem a Deus; quem permanece neste ensino, esse tem tanto ao Pai como ao Filho.” (2 João 1:9)

No próximo e último artigo do tema, deixaremos mais claro o que dizem os estudiosos sobre a possibilidade do papa ser o falso profeta. Assunto que, devido à sua complexidade, para ser entendido, precisou ser esclarecido desde a sua origem neste artigo.

E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:2)

Um comentário:

Tiago disse...

Quem escreveu ou organizou a Enciclopédia Hídria?