domingo, 21 de junho de 2009

A "incompreendível" justiça de Deus

Navegando alguns minutos no conhecido portal de vídeos YouTube, podemos encontrar uma infinidade de vídeos que de alguma forma criticam severamente a legitimidade da justiça de Deus. Existem inclusive usuários nesse site que mantêm canais (páginas com vídeos de um mesmo usuário) com o único propósito de combater a existência de Jesus Cristo e as verdades da Bíblia.

Outros ainda se excedem. Blasfemam, falam que Deus é um assassino, que Ele não existe e ainda se existisse, Ele não seria a personificação do amor, mas um Ser totalmente tomado pelo de ódio à raça humana. Com certo escarnecimento, alguns chegam também a dizer que o nível de maldade do diabo descrito na Bíblia é irrisório, se comparado à de Deus.

Os argumentos de alguns parecem até serem sólidos. Mas todo falso argumento não subsiste diante de um debate. Por isso, ao contrário destes, que adoram usar frases de efeito e versículos soltos e descontextualizados da Bíblia, apresentarei aqui de forma contextualizada algumas das acusações levantadas por estes contra a justiça de Deus, para que entendamos se o Deus que acreditamos é realmente como muitos que não O conhecem pretendem que seja.

Uma das críticas feitas é a respeito do tipo de justiça que Deus aplicou no caso de Jó. Dizem que Deus foi injusto ao penalizar um homem que sempre foi fiel a Ele com a perda de todos os seus bens e, principalmente, com a perda de todos os seus filhos. Ressaltam que Jó, além de ser um servo fiel, era também sobremodo submisso, já que agradeceu a Deus mesmo após Ele ter feito-o sofrer sem motivo prévio.

Muitos que não conhecem a Bíblia poderiam ficar aturdidos ao verem um vídeo desses. Teria sido Deus mesmo injusto? Afinal, Deus devolveu os bens de Jó em porção multiplicada, mas e os filhos? Esses não voltam à vida. Poderia Deus ceifar a vida de todos eles e ainda assim estar agindo de forma justa? Aos olhos naturais parece que não, mas leia antes o que Paulo diz a respeito da morte:

“Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho.” (Filipenses 1:21)

Paulo, como cristão, sabia que a morte não era um castigo, mas lucro. Ele entendia uma idéia que até mesmo os cristãos de hoje resistem: a de que a morte é melhor que a própria vida, pois nos transfere de um mundo de sofrimentos para outro de glória e vida eterna. E a Bíblia nos assegura que não prova da morte aqueles que guardam a palavra de Deus (João 8:52). Seguramente, eu como servo de Deus, se estivesse no lugar de Jó e perdesse todos os meus filhos, mas tivesse a certeza que todos eles foram salvos, eu poderia até ficar triste com a solidão e a falta que sentiria de meus filhos pela morte deles por alguns dias. Mas ficaria feliz e satisfeito com a certeza de encontrar toda a minha descendência na glória eterna com Deus. Assim, quem entende a morte na perspectiva cristã, sabe que ele está longe de ser um mal para os que estão em Cristo.

Outra critica que se faz é a respeito da diferença da justiça de Deus no Velho Testamento e a nossa justiça, humana. Dizem que Deus fez com que muitos fossem mortos ou submetidos a duras penas, que hoje não são compatíveis com os nossos “direitos humanos”.

Mais uma vez, os argumentos parecem ser consistentes. Mas existe algo que muitos não conhecem: o direito intertemporal, ou seja, a diferença da noção de justiça, que varia ao longo do tempo. Assim, o que é uma pena justa hoje, pode não ser assim considerada há milhares de anos atrás, simplesmente porque a forma de pensar e a cultura dos homens variam de acordo com o tempo e o local. Se muitos países não aceitam a pena de morte hoje, o homem de 4.000 anos atrás a via como uma pena comum a um homicida. Um caso real e que serve de exemplo é o Código de Hamurábi. Esse Código, aceito e respeitado por volta de 1.700 a.C., previa penas duras aos que cometessem crimes duros, diretamente proporcionais aos crimes cometidos. Assim, quem causava a morte de alguém, deveria ser morto e assim por diante inclusive para crimes menores.

Esse tipo de lei que os homens daquele tempo aceitavam como padrão de justiça, não era muito diferente da noção de justiça descrita nas páginas do Velho Testamento. E cabe lembrar que a aplicação de ambas as leis chegaram a coexistir em épocas semelhantes.

A justiça de Deus ainda “evoluiria” antes da humana. Em tempos onde o Império Romano ainda se utilizava da pena de morte, Jesus Cristo já recomendava o abandono das leis vingativas, de retribuição de pena ao agressor igual ao dano infringido por ele (Mateus 5:38-42). Assim, não subsiste o argumento de que Deus é injusto, pois a sua justiça não é aplicada de forma arbitrária por Ele, mas sim de forma proporcional inclusive se comparada à justiça do homem em seu tempo. Deus não agiu nos tempos da lei com seu povo com a mesma graça com que opera hoje. Nem o faria da via contrária, não seria benevolente demais com homens de justiça mais dura, pois estes também não o veriam como justo.

Há também os que criticam as punições de Deus no sentido de que elas são aplicadas sem o que Seu povo o conheça como ele realmente é, de forma física. Ora, aqui não se requer muita análise. Até porque um dos pilares do cristianismo é a fé, e não a crença na manifestação visível e palpável de Deus (2 Coríntios 5:7). Perceba que se Deus se mostrasse de forma visível a todos os homens, não havia nenhum que não O seguiria. Os mesmos que hoje não acreditam n’Ele, se O vissem, seguiriam-no, ainda que por puro interesse ou por medo de desobedecer um Deus que têm a plena certeza de que existe. Assim, de nada valeria a fé em Deus se Ele fosse visível a todos. Nem mesmo seriam identificáveis entre os demais os que servem a Deus por amor e não por medo ou falta de opção.

Mais comum é a contestação de que Deus não é amor pois, se o fosse, não permitiria tantas tragédias que acontecem inclusive com pobres e cristãos. Os que pensam assim, parecem se fazerem cegos à verdade. Erram ao atribuir uma culpa a Deus pelas tragédias que acontecem no mundo, como se não fossem unicamente os homens os responsáveis pelas mortes em guerras e pelas desigualdades sociais, fruto do desejo de incessante acumulação e da avareza. Como culpar a Deus pela fome na África se o desperdício de alimentos pelas empresas alimentícias é absurdo e se o que se gasta apenas em pesquisa espacial é suficiente para alimentar a todos no mundo? Até mesmo a maioria dos desastres naturais ocorre por conseqüência de atos do homem e da forma egoísta e abusiva com que faz uso dos recursos naturais. E Deus não é cego, tampouco injusto ou conveniente com o erro, para que não permita que venham à tona as conseqüências dos atos maléficos exclusivamente humanos. O ser humano só colhe o que planta. O problema é que o ser humano, no auge de seu egoísmo, acha que o sofrimento é só para o outro, e que se o seu vizinho ou um homem de outro país está sofrendo ou não, pouco importa. Dia a dia o homem colhe os frutos de sua avareza, soberba, ingratidão e blasfêmias (2 Timóteo 3:2). E vai continuar colhendo, mesmo que tente enganar a si mesmo ao pensar que a culpa disso tudo é de Deus.

Dentre tantas contestações, uma última merece ser citada: a de que Deus é injusto ao condenar ao lago de fogo aqueles que não são seus servos, tendo em vista que Ele sequer se mostra de forma real a eles. Poderia Deus exercer um julgamento tão duro? Mesmo como cristão convicto, confesso que eu não teria argumentos suficientes para defender uma justiça que, segundo muitos dizem, condena de forma tão dura até mesmo aqueles que nunca nem ouviram falar de Jesus Cristo. Lançar um índio, por exemplo, no lago de fogo, sendo que ninguém nunca pregou o evangelho de Cristo a Ele, seria de fato um ato injusto. Mas o problema é que aqueles que dizem isso se equivocam. Veja o que acontecerá no julgamento que todos haverão de comparecer:

“E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras. E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte. E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo.” (Apocalipse 20:12-15)

Repare que o julgamento que terá como sentença o lago de fogo não analisará se a pessoa serviu a Deus em sua vida ou se ela nem o conheceu, mas sim as obras de cada um, se foram predominantemente boas ou más. Mesmo os que nunca professaram Jesus Cristo terão uma segunda chance até esse julgamento (tema que será tratado em outro texto), uma prova que a justiça de Deus é ampla e não operam em benefício apenas de seus servos. Mas existem homens que, pelas suas obras em vida, deram provas suficientes de que, além de não poderem, até não se sentiriam bem na Nova Jerusalém. Seria como imaginar Hitler, Nero e tantos outros que praticaram atos horrendos contra cristãos habitando em meio aos santos e reinando com Cristo. Isso sim soaria como injusto. Pelo contrário, Deus ainda reserva um duro fim àqueles que derramaram sangue de seus justos (Apocalipse 19:2).

Diversos outros argumentos que são utilizados por aí para afrontar a Deus poderiam ser de pronto batidos em dois ou três parágrafos. Mais ainda que todas essas falácias fossem rebatidas e que toda a apologética prevalecesse no debate, ainda assim haveriam sempre aqueles que insistiriam em não acreditar nessas verdades. Por que? A Bíblia responde:

“E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem.” (2 Tessalonicenses 2:10)

“Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência(1 Timóteo 4:2)

Num mundo onde opera tanta injustiça e mentira, nunca aqueles que praticam tais atos compreenderão a justiça do nosso Deus. Jamais poderão estes homens compreender a justiça e a sabedoria de Deus, pois estarão sempre atolados em mentiras e em suas próprias concupiscências, com suas consciências cauterizadas e assim incapazes de aceitar a verdade e um tipo de justiça baseada num valor que há muitos eles já abandonaram: o amor. A estes, e não a nós, a justiça de Deus sempre será incompreendível.

Deus é um deus de amor, não de ódio. Se ele exercerá algum tipo de vingança, não será por ter deixado de amar o homem ou por ter escolhido uns e preterido outros, mas sim, por amar aqueles que o serviram de forma incondicional até o fim de suas vidas e que não retrocederam mesmo diante do martírio. Por estes, Deus exercerá o Seu juízo, contra os injustos que derramaram sangue inocente dos justos filhos de Deus, como Ele mesmo prometeu que faria (Apocalipse 6:10).

Uma pena que nem todos aqueles que tanto confrontam o evangelho de Cristo não terão a mesma sorte de Paulo, que foi “sacudido” pelo próprio Jesus Cristo em tempo hábil para se arrepender de suas práticas, ajudar a salvar a vida de muitos e também livrar a sua própria alma da condenação eterna (Atos dos Apóstolos 9:5).

“Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados. Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2 Timóteo 3:13-15)

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