domingo, 31 de agosto de 2008

A "polêmica" do Arrebatamento

Sem nenhuma dúvida, Apocalipse é o livro mais polêmico da Bíblia. Não pela veracidade das palavras que ali foram escritas, mas pelas divergências de interpretação que dali podem ser retiradas. Vários são os temas ali descritos nos quais há discordância entre os estudiosos bíblicos. Por exemplo, quem seria a mulher de Apocalipse (Apocalipse 12:13)? Há três correntes: a dos que defendem que se trata de Maria, mãe de Jesus; os que dizem se tratar de Israel (povo judeu) e ainda aqueles que defendem que a mulher descrita simboliza todos aqueles que são povo de Deus e que serão salvos.

Outra dúvida comum é quanto às duas testemunhas. Muitos estudiosos acreditam que se trata de Moisés e Elias, que já haviam aparecido na transfiguração (Mateus 17:3) e representam a lei e os profetas, que precederam a Cristo (João 1:45). Outros dirão se tratar de Elias e Enoque, que não experimentaram a morte (Gênesis 5:24 e 2 Reis 2:11) e assim morreriam uma vez como é reservado a todos os homens (Hebreus 9:27). E é possível também que essas testemunhas sejam apóstolos ou talvez até pessoas contemporâneas dos últimos dias. Ninguém sabe com certeza quem são elas.

Mas talvez a polêmica mais intrigante, e que por ora nos interessa analisar, é a da ocorrência do Arrebatamento. Palavra que sequer existe na Bíblia nessa concepção, mas tem sido usada pelos pregadores e estudiosos para descrever o momento em que o povo escolhido de Deus ascenderá aos céus, para encontrar com Cristo.

Que esse evento ocorrerá não há nenhuma dúvida. Essa foi uma promessa feita por Cristo, de que voltaria e que buscaria seu povo, sendo então salvos aqueles que n’Ele crêem (Hebreus 9:28). Mas o que se diverge é a respeito de quando ocorrerá esse acontecimento. Não há um consenso entre os estudiosos sobre a relação temporal entre o aparecimento do Anticristo e seu governo e a ocorrência do Arrebatamento. A verdade é que a maioria dos cristãos “interpretam” que o Arrebatamento ocorrerá antes das dores que serão promovidas no governo do Anticristo. Veja o que declara o site “A Espada do Espírito” (“http://www.espada.eti.br/declafe.asp”), um dos mais conceituados do mundo quando o assunto é os últimos dias:

No iminente retorno pessoal de Jesus Cristo para buscar sua igreja, antes da tribulação; que nesse momento os mortos em Jesus Cristo serão ressuscitados em corpos glorificados e os vivos receberão corpos glorificados sem passar pela morte e serão levados pelos ares antes do início da septuagésima semana de Daniel; cremos também que a tribulação, que começará após o arrebatamento da igreja culminará com a vinda de Jesus Cristo em poder e grande glória para sentar-se no trono de Davi e estabelecer o reino milenar.”

A mesma tendência, do Arrebatamento pré-tribulacionista, é também, seguida pelo Pr. Aluízio Silva, autor do livro “Apocalipse sem Mistério”. Para ele, o Arrebatamento possui dois aspectos: o arrebatamento dos vencedores e o dos demais crentes na volta do Senhor Jesus.

Uma das bases bíblicas mais fortes para tal interpretação está no livro de Mateus:

Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro; Estando duas moendo no moinho, será levada uma, e deixada outra. Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa. Por isso, estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis.” (Mateus 24:40-44)

Seguindo o caminho dessa interpretação, imaginemos como as coisas se darão. O mundo estará seguindo seu caminho normal, como hoje, por exemplo. As pessoas estarão em suas casas, seus trabalhos, escolas, envolvidas em seus afazeres e até mesmo dormindo. De repente, milhões de pessoas simplesmente sumirão repentinamente, sem explicação, em vários lugares do mundo. Se um justo e um ímpio estão conversando, este ficará falando sozinho. Carros ficarão sem seus motoristas, aviões sem pilotos, controversas explicações serão dadas pelos meios de comunicação de massa e o mundo entrará num verdadeiro colapso.

Nesse cenário, de provável violência e guerra instalada, aparecerá o Anticristo (evidentemente não com esse nome) que será muito bem recebido pelos principais governantes da Terra e pela população mundial como o governante perfeito (Apocalipse 17:12-13), apto a colocar ordem no mundo através de um inédito plano político-econômico unificador, trazendo um nível de paz jamais visto, mas que na metade de seu plano de governo de 7 anos transformará seu governo num regime repressor de todos os seus opositores (entenda-se os que seguem Jesus Cristo), e ferirá a todos estes com a morte.

Aqui temos então uma “dupla” salvação. A primeira será a dos crentes vencedores, que serão arrebatados e nem sequer conhecerão o governo do Anticristo. E a segunda daqueles já criam ou passarão a crer em Deus, mas não levaram uma vida diante d’Ele até aquele momento e por isso serão obrigados a dar a própria vida na perseguição daquele tempo para poderem ter o privilégio de se juntarem aos já salvos (Apocalipse 20:4).

Na verdade, essa interpretação é bastante alentadora aos que crêem em Deus. A certeza de que se levarmos a nossa vida diante de Deus resultará em sermos também salvos de forma tranqüila é bastante cômoda. E bem diferente da morte sofrida que levaram os apóstolos de Cristo. Mas será que os eventos finais se darão desse modo mesmo? Há uma corrente que diz que não.

Um dos que defendem essa opinião contrária à maioria é Paul C. Jong. Em seu livro “A Era do Anticristo, Martírio, Arrebatamento e do Reino Milenar está chegando? (I)”, ele afirma:

“O que nós devemos saber precisamente, portanto, é que Deus permitirá a Grande Tribulação para os Seus santos da fé. Este é o plano de Deus. A razão pela qual Ele permite que os santos atravessem a Grande Tribulação é para cumprir todos os Seus propósitos – para lançar, através da Tribulação, Satanás no fogo eterno, para mudar esta terra em um novo mundo, pelo estabelecimento de Cristo por mil anos, onde os santos reinarão com Ele, e para garantir o Novo Céu e a Nova Terra para os crentes em Jesus. Essa é a vontade de Deus, que permitiu a Grande Tribulação para nós”. (pg. 287)

Veja que aqui a visão é outra. Para Jong, os salvos e vencedores que viverem nos últimos dias não experimentarão as pragas reservadas àqueles que aceitarem a marca da besta (Apocalipse 16:1) na segunda parte do governo do Anticristo, mas viverão sim na primeira parte do governo dele. Estes então precisarão passar pela perseguição e serem martirizados e/ou mortos por amor ao evangelho de Cristo (Apocalipse 13:7).

Se alguém é para o cativeiro, para o cativeiro vai: se alguém matar à espada, é necessário que seja morto à espada. Aqui está a perseverança e a fé dos santos. (Apocalipse 13:10)

Vejam que a Bíblia está aqui afirmando que santos terão que passar pelas prisões e pela espada. E como não há uma separação rígida no livro de Apocalipse entre “grupos” de santos vencedores e não-vencedores, não podemos afirmar categoricamente que os crentes vencedores não passarão pela perseguição.

Outras passagens da Bíblia reforçam a idéia de que não haverá Arrebatamento e 2ª vinda de Cristo em momentos separados. Pelo menos não deixam isso claro. Vejamos duas passagens da Bíblia:

“Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.” (1 Tessalonicenses 4:16)

“Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade.” (1 Coríntios 15:51-53)

Veja que na primeira passagem há uma confirmação de que nos encontraremos com Cristo nos ares, e que Ele virá para esse encontro. Já na segunda passagem a Bíblia fala que nos encontraremos com Ele na última trombeta. Se Paulo está falando da última das sete trombetas de Apocalipse, o que é mais do que provável, trata-se exatamente de um tempo posterior à tribulação, o que nos dá a idéia de que passaremos (caso estejamos vivos na época) por esse duro período. Leia a partir de Apocalipse 8:6 até Apocalipse 11:15 e você vai ver que a terra passará por muito sofrimento em cada uma das sete trombetas até ver esse Grande Encontro.

Mas, qual dessas interpretações está correta? Qual é a resposta afinal? Passaremos, como vencedores, pela Grande Tribulação, ou Deus nos livrará dela? Qualquer resposta que eu der agora, seja sim ou não, poderá ser precipitada pois tanto em uma quanto em outra estarei discordando com alguns ou outros autores.

Entretanto, tal dúvida entre essas interpretações nos intriga. Quem está certo? Mas na essência, para nós, isso pouco importa. O que realmente importa é que todos nós estejamos prontos. Prontos para não ser surpreendidos no dia em que a verdadeira igreja dos vencedores de Deus ascender aos céus. Ou talvez prontos para provar a fé na palavra que defendemos e quem sabe, assim como os apóstolos e milhares de pessoas nos últimos 2.000 anos, demonstrar isso entregando nosso próprio pescoço (Apocalipse 20:4) por amor ao Deus e ao Seu evangelho, que tanto nós defendemos.

E já está próximo o fim de todas as coisas; portanto sede sóbrios e vigiai em oração. Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados.” (1 Pedro 4:7-8)

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